Os 25 alunos da quarta turma do projeto Despertar e Aprender estiveram reunidos na manhã desta quarta-feira, 6, no auditório do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) para prestigiar a aula inaugural do programa. Graças a parceria firmada entre o Instituto GBarbosa (IGB), Senac e Assossiação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos de Sergipe (Apada/SE), os surdos inscritos passarão por um curso de capacitação profissional durante seis meses em que se tornarão preparados para enfrentar o mercado de trabalho.
Na oportunidade, a assinatura do convênio entre as três instituições parceiras simbolizou a concretização dessa sociedade que envereda por um caminho de sucesso desde a sua criação. A proposta é basicamente incluir essas pessoas no mercado de trabalho já que a deficência os separa do mundo dos ouvintes, principalmente pela falha na comunicação que há entre eles.
O ex-aluno Wanderson Nogueira de Oliveira de 26 anos, fez questão de comparecer na solenidade para dar testemundo dos benefícios alcançados com o curso. De pé para o público presente, ele disse em Libras o quanto se superou depois da capacitação. Enquanto se expressava, o intérpetre da língua de sinais, Jorge Fortes, verbalizou o depoimento de Wanderson.
“Ano passado comecei a trabalhar. No início foi tudo bem, mas com o tempo senti dificuldade na comunicação. Como não tive treinamento, foi complicado compreender que ter uma postura mais profissional é importante, assim como ter noção da língua portuguesa para notar as instruções do chefe é impressindível para se manter no emprego. Esse foi o diferencial, a capacitação”, revelou o aluno que participou da terceira turma do prejeto em 2008, e hoje é funcionário de uma fábrica de abate de frango.
O grande problema enfrentado pelos surdos na busca de oportunidade são o despreparo profissional e a baixa, senão falta, de escolaridade e formação para preencher os requisitos básicos exigidos pelo mercado de trabalho. “As dificuldades são muitas para estas pessoas e pouco tem sido feito para minimizar isso. Não adianta colocar o surdo numa sala de aula que não tem tradutor. Isto sim é excluír porque ele simplesmente não vai aprender pelo óbvio motivo de não ouvir as instruões do professor. Deve ser procedido dessa forma, ou seja, com tradutor em sala para passar para eles as informações”, desabafou Lygia Maynard, presidente da Apada.
A nova turma do Despertar e Aprender abrange alunos com idades entre 18 e 40 anos e para estimulá-los eles receberão fardamento, cesta básica e uma bolsa auxílio no valor de R$ 50, custeados integralmente pelo IGB. Um incentivo para quem tiver freqüência mínima de 75% por mês. “Estamos diante de uma proposta prática de inclusão social. Aqui os surdos terão noções de comunicação com o ouvinte através dos ensinamentos de português, mas isso com um projeto pedagógico adaptado para a realidade deles. O objetivo é prepará-los para o trabalho”, informou Nadja Mattos, presidente do Instituto GBarbosa.
Desde 2006, quando teve início, o projeto já capacitou mais de 70 pessoas. Destes, 95% foram encaminhados ao mercado de trabalho e 90% estão trabalhando, conseguindo a inclusão social e ainda melhorando a renda familiar e a qualidade de vida.
O curso
O Projeto Despertar e Aprender consiste em capacitar jovens e adultos surdos, criando condições que facilitem sua inserção no mercado de trabalho e proporcionando oportunidade de exercer sua cidadania. “Ele tem uma metodologia contextualizada e trabalhada a partir da visão de mundo dos alunos surdos, sempre utilizando atividades lúdicas”, explicou a coordenadora do projeto, Alzira Aragão. A presença da família também é fundamental, mensalmente são realizadas reuniões para inteirá-la do desenvolvimento do aluno.
Dividido em três môdulos, o curso abrange Português básico, visando assegurar o aprendizado (leitura e escrita) de vocabulário contextualizado às rotinas das empresas de varejo, facilitando a comunicação; Dinâmica relacional, onde o psicólogo abordará temas referentes a auto-estima e relacionamento interpessoal; e um módulo específico, que abordará competências básicas para o mundo do trabalho e o aprendizado de atividades ligadas as funções de embalador, repositor e estoquista. Com a conclusão, todos recebem certificado do Senac.
Desde o inicio do projeto são feitos contatos com várias empresas, no intuito de divulgar a nova turma, bem como sensibilizar para o aproveitamento dos profissionais. Dois meses antes da finalização do curso, os alunos capacitados são encaminhamos para seleção e entrevista de emprego, com acompanhamento da coordenadora e do interprete do projeto, de modo que no mês de novembro todos estejam trabalhando ou encaminhados ao mercado de trabalho. “Se há condições para desempenhar uma função, não há razão para dispensar esse efetivo. Embora este seja um esforço plausível, ainda há muito o que ser feito para realmente incluir essas pessoas na sociedade”, disse Nadja.
Para participar, o aluno além de ser surdo, deve ter idade a partir de 18 anos, saber Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) básico e não receber Benefício de Prestação Continuada (BPC) do INSS. A abertura de inscrições é divulgada nas escolas que atendem as pessoas com a deficiência, nos pontos de encontro destes jovens e em recursos de mídia.
Fonte: Lig SE