Separada do hoje senador, ela diz ter presenciado fatos que "Fernando não gostaria que viessem à tona"
ROSANE: separada há quatro anos e meio de Collor, diz ter medo de morrer
Ana Paula Araripe*
Em setembro de 2006, quando Fernando Collor de Mello ainda ensaiava em Alagoas o seu retorno à cena política, o telefone tocou na mansão do bairro Murilópolis, em Maceió. Do outro lado da linha, uma voz masculina ameaçava de morte a ex-primeira-dama do país e ex-senhora Collor.
- Eu ia para o lançamento do CD evangélico de Cecília de Arapiraca. A pessoa dizia que, se fosse ao evento, eu não voltaria - relembra hoje, aos 45 anos, Rosane Brandão Malta.
Separada há quatro anos e meio do senador pelo PTB de Alagoas, ela não se intimidou. Na época, Rosane tinha confirmado aos jornais declarações da ex-mãe de santo Cecília de Arapiraca, de que o ex-presidente participava de rituais macabros.
- Se disser que não tenho medo de morrer, estaria mentindo. Acredito que Deus me ama e não vai permitir que nada de mal me aconteça, mas que sou um arquivo vivo, eu sou. Eu já disse na Justiça que qualquer coisa que acontecer com a minha vida, a responsabilidade é dele - acrescenta, referindo-se ao ex-presidente, com quem foi casada por quase 22 anos.
Às voltas com ação na 27ª Vara de Família de Alagoas para receber - segundo o seu advogado, Joathas Lins de Albuquerque - R$334.950 referentes a pensões atrasadas, Rosane briga na Justiça para ter direito à metade do patrimônio do ex-marido. Atualmente, recebe de Collor pensão de R$13 mil. O senador ainda paga o salário de quatro funcionários da mansão de Murilópolis, comprada logo após o casal deixar o Palácio dos Martírios, então sede do governo de Alagoas. Rosane dirige o próprio carro, um Fiesta 2007, vai a supermercado e paga as contas.
Em entrevista, quase 20 anos após a primeira eleição presidencial direta após a ditadura militar, Rosane relembra a vitória de Collor em 1989, fala sobre o impeachment e PC Farias. Diz que não votou e não vota no ex-marido. Hoje, filiada ao PV, admite a possibilidade de se candidatar a cargo político. Procurado ao tomar posse na Academia Alagoana de Letras, no último dia 23, o senador Fernando Collor de Mello não quis se manifestar sobre as declarações de Rosane.
Os principais trechos:
MEDO DE MORRER: "Se disser que não tenho medo de morrer, estaria mentindo. Acredito que Deus me ama e não vai permitir que nada de mal me aconteça, mas que sou um arquivo vivo, eu sou. Presenciei fatos que o Fernando não gostaria que viessem à tona. Eu já disse na Justiça que qualquer coisa que acontecer com a minha vida, a responsabilidade é dele".
O FIM DO CASAMENTO:"Quando acontece uma separação, é porque o relacionamento não estava bem. Agora, foi ele (Collor) quem se separou, saiu de casa. Descobri que ele estava com outra pessoa (Caroline Medeiros), que reconstruiu sua vida. Acredito que o amor acabou".
FOI ALI E NÃO VOLTOU: "Fui para São Paulo, passar dois ou três dias. Ele até ia se encontrar comigo, mas a gente acabou discutindo por telefone. Eu disse: "A gente tá discutindo muito, é melhor você ficar aí". Mas a Beth Szafir (amiga de Rosane) me disse para eu fazer uma surpresa ao Fernando. Eu fiz. Cheguei aqui e ele já não estava mais, tinha deixado um recado que tinha ido para Recife passar o fim de semana, mas que voltaria. Não voltou".
A TRAIÇÃO: "Você vê aquilo tudo que você tinha construído, minha casa de São Paulo, tudo sendo invadido por outra pessoa. Isso sem você saber quando e por que, porque fiquei sabendo através dos jornais. Eu ainda estava casada com ele, nem sabia que já estava separada".
VIDA DIGNA: "Ele construiu uma nova vida, que Jesus abençoe, que seja muito feliz. Agora, quero também que ele me dê o direito de ter vida digna, vida decente. Que possa ter o meu carro para andar, minha casa, que possa também usufruir daquilo que nós construímos ao longo de 22 anos. Não tenho hoje absolutamente nada. Tem um carro (Hyundai) que está em Brasília. Descobri, agora, que estava em meu nome".
(*) Do Extra
O Globo
'Estão todos juntos (na política) hoje'
PC FARIAS: "Tínhamos relacionamento sim (com PC). Nunca viajamos juntos, mas fomos ao Sambódromo. Ele dançou tango lá. Ia à Casa da Dinda, tomava café da manhã. Mas nunca soube que era ele quem pagava as contas. Tanto que tomei susto quando ele disse: "A madame está gastando muito". Achava até que o Fernando é quem depositava (o dinheiro), que a secretária dele, Ana Acioli, era quem colocava na minha conta. Agora, de onde vinha, não ia perguntar, nunca perguntei."
BRIGA DE IRMÃOS: "Existia disputa, econômica também, entre os dois (Fernando e Pedro Collor). Achava que a briga deles era só sobre o jornal, porque PC queria lançar "A Tribuna", e o Pedro não queria. Eu dizia que o Pedro estava doido de dizer que o jornal era do Fernando, mas, depois, descobri que era dele. Eles nunca se deram bem."
PIOR DO QUE IMPEACHMENT: "No impeachment, nós perdemos um cargo. Mas, agora, foi a minha vida. Estava debilitada, frágil, tinha perdido a minha mãe (em maio de 2004). Imagina você chegar em casa e não encontrar mais o seu marido."
"CONFISCO" DE JOIAS: "Quero aquilo que é meu de direito. Não é só a questão das joias. Elas são um detalhe, porque são minhas, são presentes que ganhei e estavam na casa de São Paulo. Quando ele mandou minhas roupas, eu disse que minha vida com ele se resumiu a 101 caixas, porque ele pegou as minhas roupas de Brasília, de São Paulo e de Miami e colocou em 101 caixas e mandou entregar aqui na minha casa de Maceió. E não mandou as joias, confiscou. Tenho fotografias de tudo. Tá tudo isso na Justiça e espero que, realmente, ele me devolva."
LOUIS VUITTON: "Quando a gente viajava, ele comprava malas Louis Vuitton e colocava as iniciais, as minhas letras RCM, Rosane Collor de Mello, e as dele também, FCM. Um belo dia, acordei, e a minha empregada disse: "Olha, o dr. Fernando mandou o motorista dele vir aqui e levou todas as malas". Eu falei: "Que malas?". "Levou as malas Louis Vuitton que tinham as iniciais". As malas comuns, deixou todas, mas as com as letras ele levou absolutamente todas. Achei tão miúdo, tão pequeno, uma pobreza de espírito tão grande."
NÃO VOTOU EM COLLOR: "Jamais poderia votar. Até o momento em que estávamos casados, aí, claro, eu sigo a Bíblia. Jesus disse que, quando a gente casa, a gente é um só espírito, uma só carne. Mas, como houve a separação, houve traição, ele construiu sua vida com uma outra pessoa, não posso votar em uma pessoa que não admiro."
CANDIDATURA: "Olha, as pessoas já me lançaram por diversas vezes, colocaram outdoor. Agora, me filiei ao Partido Verde. Meu ex-namorado Alder Flores (advogado) me convidou. Vamos ver. Estou deixando uma porta aberta, posso me candidatar ou não."
BENS ACUMULADOS: "Muitas coisas ele (Collor) conseguiu porque era empresário. Muitas coisas conseguimos também com o trabalho dele. Ele foi deputado federal, governador, presidente da República. Não acredito que os bens que conseguiu foram fruto da corrupção. Até porque ele foi inocentado. O Supremo Tribunal Federal o inocentou. Não estou aqui para julgá-lo. A Justiça que julgue se ele é inocente ou culpado. Ele foi inocentado, como eu também."
ELEIÇÃO DE 89: "No começo, nem mesmo nós acreditávamos. Mas, depois, quando a gente começou a percorrer o Brasil e a ver a campanha crescendo... No segundo turno, a gente começou a ter certeza que seria ele, porque a pesquisa mostrou que o Fernando realmente tinha se saído melhor do que o Lula no debate na TV."
A SAÍDA DA PRESIDÊNCIA: "O Fernando era muito jovem, tinha 40 anos. Foi eleito pelo PRN, um partido pequeno, e não se preocupou em ter um partido forte, que desse sustentação. Ele não merecia o impeachment. Seria a última pessoa que poderia estar aqui defendendo o Fernando, mas sou justa. Não acho que ele foi um bom político, mas acho que teve medidas boas."
RENAN E COLLOR: "O Renan (Calheiros) apoiou o Fernando para a Presidência. Depois romperam, e agora estão juntos. Aliás, estão todos juntos. Na política, não me surpreendo com mais nada, idealismo não existe."
ESCÂNDALOS NA LBA: "Acho que cometi um erro quando assumi a LBA. Poderia ter colocado uma pessoa que fizesse tudo o que eu queria, só que eu não assinaria nada. Tive problemas, mas, graças a Deus, fui inocentada. Até meu salário como presidente eu doava para entidades carentes. E a prova é que não tenho nada em meu nome."
TRABALHOS ESPIRITUAIS: "Havia rituais lá na Casa da Dinda. Era para abrir caminho, aquelas coisas. As pessoas mandavam coisas ruins, e ele mandava de volta. Ele acreditava nisso. Tinha animais (sacrifício de animais)."
O Globo
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