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Crise e indústria :: Albano Franco

27/4/2009

Artigo - O Globo

A crise econômico-financeira que ora assola a economia mundial pegou o Brasil em plena arrancada de crescimento. De fato, mesmo com a brutal retração de 3,6% no PIB do quarto trimestre do ano findo, a expansão da economia em 2008, medida pelo IBGE, alcançou, para os atuais padrões brasileiros, a expressiva taxa de 5,08%.

Entretanto, o legado (carry-over) do último trimestre de 2008 projeta para este ano crescimento próximo de zero ou mesmo negativo, caso a recuperação da atividade econômica não ocorra de forma muito significativa. E, para que isso aconteça, é necessário que o setor dinâmico da economia, a indústria, o que mais sofreu com a débâcle (-7,4%), apresente uma forte recuperação, superior aos demais setores.

Os dados mais recentes do IBGE sobre o desempenho da indústria mostram que o indicador dessazonalizado da produção física cresceu 2,3% em janeiro com relação a dezembro de 2008. Mas, em comparação a janeiro de 2008, a retração foi de 17,2%. Já o faturamento das empresas, medido pela CNI, indica que houve um recuo em janeiro com relação a dezembro de 2008. Também, o desemprego formal (carteira assinada) atingiu 654 mil trabalhadores em dezembro e 101 mil em janeiro deste ano.

Trata-se, evidentemente, de números sombrios, conquanto devamos levar em consideração que, tradicionalmente, nos últimos meses do ano, depois de atendidas as encomendas do Natal, o ritmo da atividade industrial cai sensivelmente até inicio do ano seguinte. Considerando tal sazonalidade, é lícito afirmar que ainda não se pode falar em recessão, muito embora, para a CNI, em face da intensidade das quedas dos últimos três meses, este é o pior ano para a indústria desde 2003.

Fica, então, para os próximos três meses uma avaliação efetiva e mais definitiva sobre os indicadores de recuperação da indústria, considerando o processo de desova dos estoques e, consequentemente, os investimentos no aumento da produção. A este respeito, a indústria automobilística praticamente já concluiu este processo, e dados recentes da Anfavea mostram que foi de 34,2% o aumento da produção de veículos em março sobre fevereiro, mas 4% mais baixa comparada com março de 2008. Todavia, no primeiro trimestre deste ano, as vendas somaram 668,3 mil veículos contra 648 mil no mesmo trimestre de 2008. Este é um dado altamente positivo e que, em grande parte, reflete o aumento do consumo de veículos como reflexo da desoneração tributária patrocinada pelo governo. De outro ângulo, em face do seu poder germinativo sobre outros ramos industriais, o crescimento da produção no setor automobilístico deverá impulsionar a indústria de bens de capital, decisiva para a retomada do crescimento.

Enfim, para os meses vindouros, entre outras medidas que venham a ser adotadas, será indispensável para o despenho da indústria que o governo mantenha a desoneração tributária do setor automobilístico e a estenda para outros setores dinâmicos tais como máquinas e equipamentos, material de construção, material de transporte, e mais o beneficio da depreciação acelerada para os próximos dois anos.

E, naturalmente, que se tomem medidas objetivas para o destravamento do crédito, já que os recursos do compulsório liberados pelo Banco Central à banca foram aplicados em papéis de curto prazo do governo e não em empréstimos para estimular a demanda efetiva. E, finalmente, que se prossiga na redução da taxa básica de juros, vez que não há nenhuma ameaça inflacionária à vista.

Albano Franco foi governador, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria e é deputado federal (PSDB-SE).

O Globo

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