Por ter dado entrevista, queixando-se dos baixos salários, e por terem promovido uma festa de queima de Judas – que é realizada em diversos pontos do Estado, durante a Semana Santa – militares sergipanos estão respondendo a uma sindicância aberta pela Polícia Militar. Ontem, eles foram ouvidos pelo coronel Antonio Vieira, e correm o risco de serem presos. O presidente da Associação dos Oficiais e Bombeiros Militares, capitão Samuel Barreto, foi um dos interrogados, assim como alguns sargentos. Ele teme até que a tradicional festa deixe de existir, já que a manifestação incomodou o governador Marcelo Déda (PT).
A sindicância foi aberta pelo comando da PM, segundo o capitão Samuel, por ordem do governador, já que a determinação chegou por escrito. Mas na quinta-feira, o promotor de Justiça, Jarbas Adelino, ajuizou ação contra os militares. Os sargentos Alexandre da Silva Prado, Edgar Menezes Silva Filho, Jorge Vieira da Cruz e o capitão Samuel Alves Barreto, foram ouvidos pelo coronel Antonio Vieira. O Código Penal Militar prevê pena de quatro a oito anos de prisão, que pode ser acrescida de um terço para os líderes das manifestações.
De acordo com o capitão Samuel Barreto, a situação vivida por ele e pelos demais militares, ontem, no quartel foi constrangedora. “Só estamos reivindicando. É um direito legal batalharmos por melhores salários”, disse o presidente da entidade, mostrando que a situação agora é irônica.
“Nós aprendemos com eles”, disse, referindo-se aos que hoje estão no poder. “Nós nos espelhamos nele. A diferença é que não queremos o poder, apenas melhores salários”, completou. Embora não tenha citado nomes, o recado, na verdade, é para o governador Marcelo Déda que, num aquartelamento durante o governo Albano Franco, PSDB, teria ido manifestar apoio aos militares.
O comandante da Polícia Militar, coronel Magno Silvestre, disse que não conhecia o teor dos depoimentos, mas acrescentou que a sindicância não se refere apenas a mobilização da queima de Judas, mas de outros fatos. No entanto, não os especificou. Somente quando estiver com a sindicância em mãos é que tomará as medidas necessárias, que poderão ser: arquivamento, transformada em Inquérito Policial Militar (IPM) ou encaminhada para a Auditoria Militar. Se ficar provado que houve transgressão disciplinar, os militares poderão ser punidos.
OAB quer uma solução rápida para o conflito
A Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe está acompanhando os fatos que envolvem perseguições a policiais militares que realizam manifestações em busca de melhores salários e condições de trabalho. “A OAB/SE exige do Estado uma rápida solução para o conflito, visto que o impasse gerado vem causando intranquilidade na sociedade sergipana, principalmente por envolver a segurança pública como atividade vital que o Estado tem o dever de prestá-la com os altos impostos dos contribuintes”, ressalta o presidente em exercício da OAB/SE, Valmir Macedo de Araújo.
Na ótica do presidente em exercício da OAB/SE, o entendimento entre Governo e policiais militares é o melhor caminho para a solução deste impasse. “A OAB/SE, com a concordância das partes, se disponibiliza a intermediar este entendimento, por entender que gestos autoritários revelados nas perseguições às lideranças do movimento policial, não condizem com as liberdades públicas que a OAB sempre defendeu, inclusive, no passado, com outras lideranças da sociedade e dos partidos políticos que hoje governam o Estado de Sergipe”, considerou Valmir Macedo.
Texto: Antônio Carlos Garcia/Fotos: Portal Infonet/Divulgação
Fonte: Jornal da Cidade