Pelo menos 15 estados, além do Distrito Federal, contabilizam invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde o início do mês, no chamado "Abril Vermelho". Só nesta sexta-feira foram feitas ações em sete estados: São Paulo, Pernambuco, Sergipe, Ceará, Santa Catarina, Paraíba e Rio Grande do Sul.
As ocupações lembraram o assassinato de 19 sem terra no massacre de Eldorado de Carajás, no Pará ocorrido em 17 de abril de 1996. Além de fazendas, os sem terra ainda bloquearam estrada. Foi o que aconteceu em Santa Catarina, onde 400 sem terra ocuparam o pedágio da BR-116, na região de Lajes. O local só foi liberado no fim da tarde, após negociação com a polícia.
Em São Paulo, duas propriedades foram invadidas. Em Iepê, na região do Pontal do Paranapanema, 500 sem terra ocuparam a fazenda Santa Lúcia, do grupo Atala. Já em Taubaté, no Vale do Paraíba, 250 família de trabalhadores rurais invadiram a fazenda Guassahy, "que possui 300 hectares e está em situação de abandono e total improdutividade", segundo nota divulgada pelo MST.
Já em Pernambuco, os sem terra ocuparam a fazenda Blame, localizada entre os municípios de Poção e Jataúba. A área tem 12,5 mil hectares e pertence à família de José Cordeiro de Santana. Segundo o MST, o fazendeiro foi condenado em 2002 como mandante do assassinato do cacique Xicão Xukuru, assassinado no município de Pesqueira, em 1998.
O estado que registrou o maior número de fazendas invadidas foi Sergipe. Lá, três propriedades foram ocupadas por sem terra: as fazendas Algodão, em Gararu; Nossa Senhora das Graças, em Santo Amaro dos Brotos, e uma (sem nome) em Ribeirão do Amparo, já na divisa com a Bahia.
Na Paraíba, 200 famílias de sem terra ocuparam a fazenda Bela Vista, em Itabaiana. A fazenda, de 300 hectares, já havia sido ocupada em 2006, mas poucos dias depois as famílias foram despejadas.
- O Incra já fez a vistoria da área, que é comprovadamente improdutiva. Mas devido a uma venda de parte do terreno, o processo ficou travado. Por isso reocupamos a fazenda, para exigir o assentamento de pelo menos 30 famílias na área - diz João Porfírio, da direção estadual do movimento.
Naquele estado, mais de 2.500 famílias estão acampadas. As famílias cobram uma política de Reforma Agrária que garanta condições de moradia e produção. Mas as invasões tiveram ainda como pano de fundo a crise econômica mundial.
- A crise econômica demonstra que o agronegócio não tem condições de melhorar a vida dos trabalhadores rurais - disse Marina dos Santos, uma das coordenadoras do MST.
Flávio Freire
O GLOBO