EMBORA TODAS AS ESPECULAÇÕES APONTEM O SENADOR JOSÉ ALMEIDA LIMA, RECENTEMENTE ELEITO PARA PRESIDIR A COMISSÃO DO ORÇAMENTO DO SENADO, UM POTENCIAL CANDIDATO AO GOVERNO DE SERGIPE EM 2010, ELE GARANTE QUE NÃO SABE SEQUER AINDA SE SERÁ CANDIDATO À REELEIÇÃO DE SENADOR. “NÃO ME AGRADA O PROCESSO DE URNA ELETRÔNICA. COM ELE, VOCÊ GANHA E NÃO LEVA, E ISTO FOI O QUE ACONTECEU EM ARACAJU NA ÚLTIMA ELEIÇÃO, QUANDO SE VERIFICOU UMA GRANDE FRAUDE ELEITORAL. PRIMEIRO, EU VOU LUTAR PARA A LIMPEZA DESSA SUJEIRA, PARA QUE O RESULTADO DAS ELEIÇÕES SEJA A VERDADEIRA VONTADE DO POVO. A PARTIR DAÍ, E JÁ NO PRÓXIMO ANO, É QUE TOMAREI UMA DECISÃO.”, DIZ ALMEIDA. AO SER INDAGADO SOBRE A POSSÍVEL COMPOSIÇÃO DO SEU PARTIDO COM O GOVERNADOR MARCELO DÉDA (PT) OU COM O GRUPO DO EX-GOVERNADOR JOÃO ALVES FILHO (DEM), O SENADOR LEMBRA QUE O PMDB É UM PARTIDO SEM AMARRAS E QUE “QUALQUER DEFINIÇÃO QUE EU VIER A TOMAR NÃO SERÁ EM FUNÇÃO DE NOMES OU DE GRUPOS, MAS DE UM PROJETO DE MUDANÇAS PARA SERGIPE. PRIMEIRO DEVE-SE CONSTRUIR UM PROJETO DE MUDANÇAS PARA SERGIPE, PARA DEPOIS AGREGAR A ELE PESSOAS E GRUPOS QUE DESEJEM DEFENDÊ-LO E IMPLEMENTÁ-LO. O FATO É QUE O POVO NÃO SUPORTA MAIS O QUE AÍ ESTÁ”. ELE FALA AINDA SOBRE COMO PRETENDE ATUAR NA COMISSÃO DO ORÇAMENTO E O QUE PODERÁ FAZER POR SERGIPE. O SENADOR SE MANIFESTA CONTRÁRIO AO ORÇAMENTO IMPOSITIVO, AQUELE QUE OBRIGA O EXECUTIVO A CUMPRIR TUDO AQUILO QUE FOI ORÇADO.
A seguir os principais trechos da entrevista:
w JORNAL DA CIDADE - O senhor pretende disputar o governo de Sergipe em 2010?
ALMEIDA LIMA - Confesso não ter parado para pensar sobre as eleições de 2010. Acho muito cedo. Este é um assunto prematuro. O momento é para atender as demandas da sociedade. Imagino que o povo deseja é saber quando o governo vai tirar a saúde e a educação da falência, e quando vai resolver o grave problema da falta de segurança da população. Mas como se vê, muitos dos que se elegeram não disseram, ainda, a que vieram. Nada fizeram, embora estejam no poder há mais de dois anos e, mesmo assim, estão aí tratando, tão somente, de eleição. Sou político, mas me nego a esse papel, pois não é correto chegar ao poder e, além de não trabalhar para o povo, viver utilizando a estrutura do Estado apenas para tramar, politicamente, a sua permanência no poder, deixando os graves problemas do povo de lado. Perdoem-me, mas vocês que fazem a imprensa têm parcela de responsabilidade nesse processo, porque trabalham diariamente esta pauta que é desimportante, e deixam de lado o jornalismo crítico em defesa da sociedade. Pois, para mim, a eleição de 2010 fica para depois. Agora o que irei fazer é utilizar o espaço de poder que exerço em benefício de Sergipe e do Brasil.
w JC - Almeida Lima, a chapa formada pelo senador Valadares e o deputado federal Jackson Barreto para o Senado em 2010 inviabiliza a sua reeleição ou há ainda como formar uma outra opção oferecendo o nome do senhor na disputa?
AL - Insisto: não tenho pensado em eleição e não farei isso este ano, embora seja o que todos estão fazendo. Não tenho pressa com esse assunto, no entanto, seja esse um tema que tem me proporcionado boas risadas por ver que, na visão de parte expressiva da classe política local, Sergipe já esteja dividido. Cada um deles já se considera dono de um pedaço do Estado a partir de 2010. Isto é, não consultaram o povo, mas já se consideram eleitos. Já acertaram quem será o governador, quem serão os dois senadores, os oito deputados federais e os vinte e quatro deputados estaduais. Ou seja, já dividiram todo o Estado. Acho até que não vai haver mais eleição. É que eles vêem Sergipe como uma grande propriedade e o povo como gado, ou, quem sabe até estejam confiando, novamente, na fraude das urnas eletrônicas. Bem, se assim for, eles têm razão.
w JC - Fala-se muito numa chapa para o Senado, tendo Almeida Lima e Eduardo Amorim como candidatos. Isso é viável? O senhor tem interesse nesse tipo de articulação política?
AL - Falando francamente, não sei nem se serei candidato nas eleições de 2010. Não me agrada o processo de urna eletrônica. Com ele, você ganha e não leva, e isto foi o que aconteceu em Aracaju, na última eleição, quando se verificou uma grande fraude eleitoral. Primeiro, eu vou lutar para a limpeza dessa sujeira, para que o resultado das eleições seja a verdadeira vontade do povo. A partir daí, e já no próximo ano, é que tomarei uma decisão e, caso seja no sentido de participar do processo eleitoral, procurarei construir um projeto de mudanças para Sergipe e estabelecer os contatos necessários à formação de uma chapa.
w JC - O fato do diretório estadual do PMDB estar nas mãos do deputado federal Jackson Barreto, e do ex-deputado Jorge Alberto inviabiliza qualquer pretensão eleitoral sem que eles concordem?
AL - Não! O PMDB é imensamente maior do que todos eles. O PMDB é um partido grandioso, e é com esta visão e esse sentimento que eu convivo dentro dele e que estabeleço as minhas relações. E é nesse PMDB que eu me sinto confortável.
w JC - Em sendo candidato à reeleição ou ao governo, o senhor pretende buscar um acordo com o grupo do governador Déda, já que o PMDB é aliado nacional do PT, ou com o grupo do DEM, liderado pelo ex-governador João Alves?
AL - O PMDB é um partido sem amarras. Nem mesmo com a verticalização, nos diversos Estados ele se dobrou a esse tipo de imposição. Na última eleição, em cada Estado, o PMDB adotou a posição que lhe pareceu mais adequada, não apenas quanto à eleição local, mas, também, para presidente. Em Sergipe mesmo, na eleição de 2002, o partido fez aliança com o PT, embora o seu presidente Benedito Figueiredo tenha se candidatado a senador ao lado de João Alves. Quanto a possíveis acordos para 2010, superados os condicionamentos a que me referi, esclareço que não estarei amarrado a grupo A ou a grupo B. Qualquer definição que eu vier a tomar, não será em função de nomes ou de grupos, mas de um projeto de mudanças para Sergipe. Primeiro deve-se construir um projeto de mudanças para Sergipe, para depois agregar a ele pessoas e grupos que desejem defendê-lo e implementá-lo. O fato é que o povo não suporta mais o que aí está.
w JC - O senhor tem conversado com os dirigentes estaduais do PMDB, com o governador Déda e/ou com o ex-governador João Alves? Sobre o que e quando conversou com cada um deles?
AL - Não tenho conversado com nenhum deles. Tenho cumprimentado o governador e o ex-governador onde, eventualmente os encontro. Não mantenho relação com os dirigentes do PMDB local. Com o governador Marcelo Déda, mantive uma conversa por telefone assim que fui indicado presidente da Comissão do Orçamento, oportunidade em que fiz a comunicação do fato e me coloquei à disposição do Estado e do seu governo para contribuir em tudo que for possível, e assim farei.
w JC - O senhor se sente um aliado do ex-governador João Alves e rejeitado pelo grupo de Déda? O seu PMDB prefere quem como aliado?
AL - Não! Não me sinto aliado do ex-governador. Estivemos aliados em 1998, quando eu o apoiei para governador no segundo turno daquela eleição, e em 2002 quando eu o apoiei para governador e ele me apoiou para senador. Na eleição de 2000, eu fui candidato e ele não me apoiou. Na de 2004, ele não quis fazer aliança com o meu partido. Na de 2006, eu não participei do processo eleitoral, e na de 2008, para prefeito, ele preferiu ter candidato a me apoiar. Portanto, não somos aliados, mas somos amigos. Estivemos aliados quando as circunstâncias permitiram o que, aliás, também aconteceu comigo e com o governador Marcelo Deda, pois já estivemos aliados e hoje somos adversários. Portanto, alianças futuras as circunstâncias é que vão determinar. Que fique bem claro: sou um político livre e desimpedido, ou seja, sem amarras.
w JC - Fala-se muito da relação muito próxima do senhor com o senador Renan Calheiros, que seria o responsável pela eleição do senhor, por gratidão, para a presidência da Comissão do Orçamento. Renan ajudou a sua campanha para a Prefeitura? Pretende ou pode ajudar na campanha de 2010?
AL - A minha indicação para a presidência da comissão foi da bancada de senadores do PMDB, cuja lista foi encabeçada pelo Senador Pedro Simon, sendo acatada pelo líder Renan Calheiros. Mas, digamos que a minha indicação para a presidência da Comissão tivesse sido por gratidão, eu lhe digo que isso me encheria de orgulho. Ora, se os meus companheiros se sentem gratos a mim é porque eu tenho sido um bom companheiro para todos eles. E ser um bom companheiro é uma boa qualidade, o que me engrandece. Bem, em 2008 não houve ajuda direta de Renan Calheiros para a minha campanha, mas caso eu venha a ser candidato em 2010 eu espero que ele me ajude, pois todas as ajudas serão bem vindas e a dele também.
w JC - Também fala-se muito sobre um hábito que o senhor teria de receber dinheiro para campanha e não o investir, para fazer uso pessoal. Isso tem fundamento? Quando o senhor arrecadou na campanha passada e quanto poupou?
AL - Que conversa é essa...? De onde saiu essa imundície? Confesso meu caro jornalista, que nunca ouvi falar nisso, nem mesmo por sussurro. Essa é a primeira vez que ouço essa ignomínia, pois nem por murmúrio ouvi nada a esse respeito. Vejo essa questão como uma maledicência contra mim, uma invencionice. Sinto nojo, asco e repugnância dessa lorota. Isso é uma blasfêmia contra a minha pessoa. Ora, quem tem a vida pública como eu e, diga-se, são bem poucos os que têm, e quem foi o administrador do dinheiro público que eu fui, não merece esse tipo de agressão. Você pode encontrar esse comportamento em outros grupos ou em outras pessoas, em mim não. Aliás, sempre tive firmeza de caráter. Em Sergipe já rolou “checão da energipe” e malas pretas, mas nunca participei de eleição vendendo a minha alma como alguns “bocas porcas” são acostumados a fazer. Quem sabe até seja por isso mesmo que costumo fazer política sozinho, exatamente porque não me sinto bem ao lado de porcos.
Na campanha passada eu gastei o que eu arrecadei, e tanto as receitas quanto as despesas foram declaradas à Justiça Eleitoral, cujas contas já foram aprovadas.
w JC - O senhor tem condições financeiras hoje de bancar a sua própria campanha sozinho? Tem muitos amigos para ajudar a sua campanha?
AL - Não tenho condições de bancar nenhuma campanha eleitoral. Dificilmente uso o meu dinheiro que é de minha família em campanha eleitoral. As campanhas são financiadas por amigos na forma da lei, tanto que eu nunca tive um mandato pendurado em processo por abuso de poder econômico. Mas é bom que se frise, também, que nunca hipotequei os meus mandatos em favor de nenhum financiador de campanha.
w JC - O espaço que terá na mídia, como presidente da Comissão do Orçamento, lhe projetará o suficiente para disputar o governo ou o senado em 2010?
AL - O que vai me projetar em decorrência do exercício da presidência da Comissão do Orçamento, - não necessariamente para ser candidato – não será o espaço farto que poderei ter na mídia, mas as minhas atitudes que, tenho certeza, irão surpreender aqueles que, ainda, não me conhecem. Quem me conhece sabe que eu nunca fui hipócrita com ninguém, muito menos com a imprensa. Jamais neguei quem eu sou jamais escondi o que eu fiz, jamais deixei de assumir posições por medo da imprensa, jamais deixei de criticar a imprensa sempre que discordei de seus métodos, muitas vezes pecaminosos e heterodoxos. E é esta liberdade e independência que eu cultuo que me colocam onde eu me encontro, pois se eu dependesse dos elogios da imprensa para sobreviver politicamente eu já estaria sepultado há muito tempo.
w JC - O que vai diferenciar o senhor dos demais presidentes da Comissão do Orçamento?
AL - Necessariamente não terei que ser diferente dos demais. Para mim, o bastante será eu continuar sendo eu mesmo, podando os meus defeitos e acrescentando outras virtudes. Esta é a evolução que eu desejo para o meu espírito.
w JC - O que Sergipe, o Nordeste e o Brasil ganham com a sua gestão presidencial na Comissão do Orçamento?
AL - Só saberei responder a essa pergunta ao final de um ano, ou seja, ao final de março de 2010. Agora seria muita petulância, e eu não me sinto assim.
w JC - O que realmente o senhor pode fazer por Sergipe, sendo presidente da Comissão do Orçamento?
AL - No mínimo que ele não continue sendo discriminado na lei orçamentária como sempre esteve. No mais, como passarei, por força do cargo, a ter maior diálogo com o governo, conseguirei defender, de forma mais próxima, os pleitos do nosso Estado.
w JC - O senhor é favorável ao orçamento impositivo, aquele que obriga o Executivo a cumprir as metas definidas? Por quê?
AL - Não, eu sou contrário a orçamento impositivo. Orçamento é planejamento, é previsão de receitas e de despesas e, como tal, não pode ser uma camisa de força que venha obrigar o executivo a fazer aquilo que extrapolou à sua previsibilidade orçamentária, o que se torna materialmente impossível. O governo não pode se obrigar a fazer tudo que o orçamento estabelece, o que ele não pode é fazer o que ele não prevê.
Fonte: JORNAL DA CIDADE
Publicada: 29/03/2009
Texto: Eugênio Nascimento