A reportagem exibida pelo Rede Globo de Televisão, no noticiário de maior audiência da TV brasileira – o Jornal Nacional – de segunda-feira passada, sobre a seca que maltrata o sertão sergipano, causou indignação de vários telespectadores do país. Produzida pela afiliada TV-Sergipe, bem apresentada pela repórter Carla Suzane, a reportagem mostrou indignação e lágrimas de agricultores pobres, que lutam por suas vidas e pela dos animais. Sem comida e com sede, o gado definha e morre. Alguns são salvos quando conseguem ficar de pé, sustentado por um aparelho criado pela necessidade de sobrevivência de todos: uma espécie de faixa de nylon, amarrada a cordas fortes em galhos de árvores, levanta os bichos e os sustenta pela barriga.
Sem isso eles morrem à mingua...
O rio São Francisco corta o estado de Sergipe do sertão ao litoral. Corre capengando até a foz e hoje trava uma luta contra o mar, deixando-se vencer pela fragilidade e a força com que as águas salgadas avançam em seu leito. Dá dó. O local em que a repórter Carla Suzane fazia a reportagem para todo o Brasil, ficava praticamente às margens do rio São Francisco e, talvez por esquecimento, isso não foi citado [é possível também que tenham cortado na editagem]. Talvez fosse importante a lembrança, porque a TV exibia, com nitidez, o quadro do sertanejo que fica do lado de cá do rio, morrendo de sede e fome, com o Governo Federal deixando de assisti-lo para levar água ao semi-árido nordestino. E por quê não fazer um projeto audacioso para essa região que está às margens do São Francisco?
A matéria sensibilizou brasileiros de vários Estados e alguns e-mails foram recebidos. Um deles diz o seguinte: “acabo de assistir matéria do Jornal Nacional sobre a seca no sertão sergipano. As vacas não conseguem ficar de pé. O sertanejo, na sua serenidade, resignado, diz algo assim: quando vejo um boi morrer, eu também morro, porque eu vivo disso”. E continua: “Desgraçados! Foram R$ 143 milhões enterrados naquele Fórum em Belém! E os R$ 10 milhões doados à Faixa de Gaza para ajudar quem cava a própria cova! E os mais de R$ 4 milhões gastos com cartões corporativos, para hospedagem, alimentação e viagens do marajá que não solta uma lágrima pelos pobres! Ajuda ao Haiti? Absurdo, vergonha, nojo, crime! É inadmissível que se gaste milhões com terceiros, quando aqui nossa gente morre por falta de água, por falta do que comer”.
Um segundo e-mail também lamenta: esqueceram-se do bispo Luiz Cáppio [que fez greve de fome contra a transposição do São Francisco], dos sertanejos, e, pior, esqueceram que estão eliminando, primeiro a vida desses animais, depois as comunidades ali residentes, que não terão outro meio de sobrevivência, sem o principal produto, o leite, consequentemente, sem o queijo, requeijão, iogurtes, ... Só não esqueceram do projeto de transposição do rio São Francisco, cujo motivo pouco explicado, é verdade, mas encabeçado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Falando nisso, eu pergunto: qual a razão de transpor essas águas para mais de 1.000 km, com um gasto gigantesco, que de tão gigante nem vislumbro seu fim, e não irrigar essa área do sertão sergipano, a menos de 1 km do rio São Francisco?”
O terceiro e último e-mail faz cobranças: “um comandante de verdade é o último a abandonar o barco, não o primeiro. A vaca passa a ser pra mim o símbolo deste Governo. O símbolo do abandono, do desprezo e da vergonhosa relação que Lula mantém com o povo brasileiro. Cada centavo que este governo jogou no lixo é uma bofetada na cara de cada um de nós. É escandaloso! Eles ainda terão a cara de pau de montar palanque nessas regiões atingidas pela seca. São uns sem vergonha na cara. Cadê o MP? [Ministério Público] Ainda discute se o Mac Donald´s pode vender brinquedo com sanduíche? Ou está discutindo se o quarto branco do BBB-9 foi um caso de tortura? Hoje eu só quero que aquela gente sofrida, que não tem vizinhos a quem recorrer, seja salva”.
É isso aí: há algo de podre por trás dessa insistência na transposição do rio São Francisco. O futuro dirá.
Fonte: Fax Aju/Plenário/Diógens Brayner