O Globo
BRASÍLIA - Pouco mais de um ano após sua absolvição no processo de cassação que investigou uso de dinheiro de um lobista para pagar pensão a uma filha fora do casamento, o hoje líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), está premiando com cargos importantes no Senado a tropa de choque que assumiu a linha de frente de sua defesa. Depois de indicar o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) para a vice-presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), nesta terça a bancada do partido deve ratificar a indicação do nome de Almeida Lima (PMDB-SE) para a presidência da poderosa Comissão Mista do Orçamento (CMO), responsável pela elaboração do Orçamento de 2010, ano de sucessão presidencial. Renan também já deu ao ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) o comando da Comissão de Infraestrutura.
Com atuação apaixonada na época do processo, tanto Almeida como Salgado apresentaram votos em separado pela absolvição de Renan, o que acabou acontecendo no plenário, por 40 a 35 votos. A CMO tem troca de comando este mês. A relatoria deverá ficar com o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), e a presidência com Almeida Lima, que é advogado e tem pouca experiência na área econômica. Senadores de todos os partidos, inclusive da base, estão apavorados com a notícia e acham que Renan articula para pôr no cargo um parlamentar de atuação fraca, a fim de criar mecanismos de dificuldade para o governo e operar, ele mesmo, a realização do Orçamento.
"O envolvimento do Renan em escândalos recentes acabou criando no Senado uma desconfiança em relação a suas indicações para essas comissões tão importantes"
- O envolvimento do Renan em escândalos recentes acabou criando no Senado uma desconfiança em relação a suas indicações para essas comissões tão importantes. A pessoa que for presidir a Comissão de Orçamento vai ter que andar nos trilhos para não transformá-la de novo num foco de denúncias - diz o líder do PSB, Renato Casagrande, que teve seu parecer pela cassação de Renan aprovado no Conselho de Ética, mas derrotado no plenário.
Para um outro senador da base, Renan está procurando ampliar os mecanismos de controle político no Senado e no governo. Refez a parceria Collor e o colocou na Comissão de Infraestrutura, indicou Salgado e, agora, Almeida.
Sem arrependimentos na defesa de peemedebista
Almeida chegou nesta segunda a Brasília disposto a conversar com a bancada. Mas disse que não terá problemas, porque tem sido útil ao partido. Afirmou que se orgulha de ter defendido Renan, e que não será marionete de ninguém. Mas vai conversar muito com seu líder e com o presidente do Senado, José Sarney.
"Qualquer um que ouse dizer que serei marionete do Renan vai ser desafiado por mim a fazer uma checagem de sua vida com a minha"
Qualquer um que ouse dizer que serei marionete do Renan vai ser desafiado por mim a fazer uma checagem de sua vida com a minha. O maior vestal não chega ao rés dos meus pés em termos de ética e moral. Fui ousado de fazer aquela defesa do Renan, mas não me arrependo. Tenho muito orgulho. Eu estava certo, ele foi absolvido, e os inquéritos morreram - disse.
Ele reconhece que não tem o preparo "intelectual" para comandar a comissão, mas promete agir com rigor, ética e moral:
- Não nego minhas amizades. Os que criticam têm ciúmes da relação de companheirismo que tenho com Renan. Quando cheguei aqui, era uma ave desgarrada. Hoje me sinto confortado. Participo de um grupo político que me acolhe.
Renan foi procurado, mas não retornou.
O Globo - Maria Lima