O senador Fernando Collor de Mello derrotou a petista Ideli Salvati por 13 votos a 10/Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr
A principal constatação, no entanto, é a agressividade política do PMDB nos últimos meses, graças ( é claro) à maioria parlamentar de que dispõe e o interesse do presidente Lula em tê-lo como aliado em 2010. Até lá, apesar das surpresas, portanto, os choques políticos não ocorrerão, se depender do Planalto. E o PMDB irá avançando, fazendo valer sua maioria diante da perspectiva de aliança na sucessão: já tem os presidentes da Câmara e Senado, boa presença no governo, trata de consolidar esse cenário. E pode pedir mais...
Reação no PT
O PT foi surpreendido e curiosamente pelo seu histórico adversário, o candidato que superou a Lula no confronto eleitoral de 1989. Hoje, a situação de ambos é diversa. Lula é o Presidente da República e Fernando Collor retoma sua trajetória política e buscou uma posição importante numa das comissões mais importantes do Senado.
O líder do governo, o senador Aloizio Mercadante estranhou que a escolha do presidente da Comissão de Infra-Estrutura não tivesse obedecido ao princípio da proporcionalidade partidária, a exemplo do que ocorreu nas outras indicações das comissões permanentes. Assegurou que o PT foi fiel à proporcionalidade e disse que a presidência da Comissão "estava reservada ao partido". No seu entendimento, o fato de haver eleição "feriu as tradições do Senado". Fernando Collor reagiu, ao saber das declarações e lembrou que a própria Constituição diz apenas que a escolha dos presidentes das comissões deve ser feita, de preferência, "e não com todo rigor", em obediência a este princípio entre partidos políticos e blocos parlamentares. E concluiu afirmando que o seu Partido, o PTB, deveria realmente ter disputado o cargo, como aconteceu.
PT surpreendido
Para a senadora Ideli Salvatti a quarta escolha, entre as comissões permanentes da Casa, caberia ao PT, já que o partido possui expressiva bancada. E lembrou que o PMDB, o DEM e o PSDB, situados à frente, tiveram a oportunidade de escolher, por consenso, pela ordem da proporcionalidade, as presidências das Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania, de Assuntos Econômicos, Relações Exteriores e Defesa Nacional. Isto é seguindo o critério.
Ao líder do PMDB, senador Renan Calheiros, foi atribuída a manobra, por isso criticado, mas que reagiu lembrando que, na última legislatura, o PMDB lutou para que o senador Aloizio Mercadante, fosse o presidente da CAE, apesar de o PT não ser, na época, o quarto maior partido na Casa. O que ocorreu, na sua versão, foi um consenso partidário em defender a candidatura de Fernando Collor. Para tanto, como já ocorreu em outros casos na fase de instalação de comissões, o líder do PMDB trocou senadores na comissão, visando garantir a operação com nomes de sua confiança.
Reação na hora
O senador Aloizio Mercadante, líder do PT no Senado, no entanto, não assimilou o episódio de ontem e considerou a eleição de Fernando Collor para a presidência da Comissão de Infra-estrutura como resultado de uma aliança espúria: "Esta eleição foi resultado de uma aliança espúria entre os senadores Renan Calheiros e Fernando Collor que feriu o direito legítimo e democrático de a bancada do PT indicar a senadora Ideli Salvati".
A comissão é das mais importantes do Senado. Entre os assuntos que examina estão temas importantes como o PAC e a exploração de petróleo. O resultado final, no entanto, mostrou a vitória de Collor sobre Ideli por uma diferença escassa, de 13 votos a 10. Tão logo soube das críticas de Mercadante, Collor reagiu dizendo que não houve relação espúria, mas um acordo inteiramente aberto que todo mundo participou e soube. E respondeu diretamente a Mercadante afirmando que ele precisa medir um pouco suas palavras e respeitar seus companheiros do Senado.
Renan explica
O senador Renan Calheiros também se defende dizendo que foram feitas composições em todas as comissões técnicas com relação a participação do PMDB, inclusive para a infra-estrutura. No seu entender houve um erro político com dois partidos da base disputando: “Infelizmente aconteceu, foi uma condução política errada, os partidos da base conflitaram interesses".
Uma das estratégias do líder do PMDB para atingir seus objetivos, no entanto, foi recorrer à substituição de nomes na comissão, o que já havia acontecido no caso de Jarbas Vasconcelos na véspera, também retirado da comissão que integrava, a de Justiça. Mas por outras razões, as suas criticas e denúncias.
Reações
Ao contrário do PT no Senado, o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que é correligionário de Collor no PTB, elogiou sua vitória E disse que ele é um parlamentar "indiscutivelmente" é um nome com experiência e afirmou que, depois de todos os episódios pelos quais ele passou, sua eleição "chega em boa hora". E prevê que deverá manter um trabalho afinado com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Com a experiência dele, Collor, e como a Comissão de Infraestrutura tem de ter afinidades com a ministra Dilma, por causa do PAC, tenho certeza que os dois vão se ajudar", prognosticou. Admitiu, porém, que chegou a trabalhar para a escolha de Ideli...
Mais reações
Os senadores Arthur Virgílio e Ideli Salvatti lamentaram, mais tarde, a abertura de um "grave precedente" para o Senado a eleição do senador Collor. E por uma razão: segundo o princípio da obediência à proporcionalidade, a Comissão estaria destinada ao PT, que indicou Ideli, derrotada por uma diferença de três votos.
-Queria deixar registrado que lamentamos profundamente que tenha sido quebrada a regra, a lei, a praxe da escolha pela ordem da proporcionalidade, observou a líder do PT.
O líder tucano, Arthur Virgílio também criticou a abertura do precedente, e disse que, daqui em diante, poderá se fazer "uma balbúrdia" no Senado: "Eu entendo que quem não respeita as regras é algoz hoje e pode ser vítima amanhã.”
Carlos Fehlberg