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MST anuncia nova onda de invasões

27/2/2009

Dirigente diz que crise e desemprego provocarão ocupações em série em março e abril

BRASÍLIA

A direção do MST ignorou as críticas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e, em vez de reduzir, vai intensificar as invasões de terras em todo o país. Os meses de março e abril, na avaliação de um dos principais dirigentes nacionais do movimento, Gilmar Mauro, deverão ser marcados por uma das mais fortes jornadas de ações na história do MST.

– As demissões que já estão ocorrendo no campo vão provocar novas ocupações em março e abril, quando se encerra também mais um ciclo na agricultura – diz Mauro.

Ele afirma que o desemprego e a miséria nas cidades vão agravar os problemas sociais ao ponto de alterar a correlação de forças na luta pela reforma agrária.

– Os problemas sociais vão estimular os movimentos e sindicatos a radicalizarem a luta pela terra. Nós do MST vamos dar continuidade ao trabalho didático de organizar os trabalhadores para as ocupações dentro da realidade objetiva do país – alerta Gilmar Mauro.

Com desemprego no campo e mais miséria na cidade – fatores que multiplicam os contingentes de sem-terra – o Brasil viverá, segundo ele, uma nova fase de conflitos. Mauro acha que o aumento das invasões pode trazer, a reboque, mais violência no campo.

– Tomara que não haja violência porque essa corda sempre estoura no trabalhador rural. O agravamento não nos interessa – diz Gilmar Mauro, que sugere que o governo corte o mal pela raiz com um programa arrojado de reforma agrária, trocando o atual modelo, que chama de distributivista, por um programa de agricultura sustentável.


O MST vai concentrar as invasões na Amazônia Legal, especialmente Rondônia, em função da confusão fundiária para combater o programa de regularização fundiária. Segundo Mauro, o governo, ao legalizar as posses de 2.500 hectares, estará premiando quem grilou terras públicas na região.

– O lamentável é que esse tipo de regularização tenha o endosso do presidente Lula – critica.

As invasões na região paulista do Pontal do Paranapanema – onde o líder dissidente do MST, José Rainha Júnior, tomou 21 fazendas numa ação articulada – e o assassinato de quatro seguranças da Fazenda Consulta, em São Joaquim do Monte (PE), aumentaram o clima de tensão no campo. O presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Octávio Alvarenga, cobrou do governo pernambucano uma investigação rápida, que sirva de exemplo para evitar o agravamento da crise. Alvarenga desaconselhou uma reação dos proprietários e disse que o episódio reforça a sua tese de criação de uma Justiça Agrária Especializada, que daria uma resposta emergencial aos conflitos fundiários e ambientais.

– Agora é preferível que se confie na polícia. Se outros se armarem, o quadro de violência vai se agravar – alerta o presidente da SNA.

Imagens

A direção nacional do MST, em nota distribuída ontem, considera o assassinato dos quatro seguranças uma ação de legítima defesa, tomada para evitar um massacre em que as vítimas seriam os sem-terra. Segundo o movimento, milícias armadas rondavam os acampamentos nas fazendas Jabuticaba e Consulta desde sábado.

"Os pistoleiros entraram armados no acampamento Consulta, depois de reocupado pelas famílias, e passaram a agredir um trabalhador, até levá-lo ao chão. Um dos pistoleiros chegou a sacar uma arma para atirar, e foi nesse momento que os acampados reagiram, em legítima defesa" – diz um dos trechos da nota. A versão da polícia é diferente: dois foram mortos no local e os outros perseguidos e executados.

A chegada dos seguranças foi fotografada por um dos acampados momentos antes da chacina. Os quatro retornaram ao acampamento da Fazenda Consulta justamente para tomar dos sem-terra as fotos em que aparecem armados com pistolas e rifles. Numa estrada de terra se encontraram com um quinto segurança e seguiram para o acampamento. A última imagem de uma sequência de cinco fotografias divulgadas ontem no site do MST mostra um homem de camisa vermelha com uma pistola apontada para um rapaz caído no chão. Instantes depois, tem início o tiroteio. A direção do MST sustenta ser contra a violência e advertiu que as famílias acampadas podem ser alvo de uma reação das milícias contratadas pelos fazendeiros.

Pará

O MST admitiu que na região do Pontal do Paranapanema (SP) é responsável pela ação em apenas três das 21 fazendas invadidas. A nota frisa que José Rainha Júnior não exerce mais nenhuma função de liderança no movimento. No Sul do Pará, a onda de invasões nas fazendas do banqueiro Daniel Dantas pode terminar em violência. Os invasores, cerca de 600 – parte deles do MST e outros de entidades sindicais – deram um prazo que se extingue hoje para que os 400 funcionários da Agropecuária Santa Barbara, braço rural do Grupo Opportunity, saiam de sete blocos invadidos. Eles ameaçam atear fogo nas casas se os funcionários resistirem.

Vasconcelo Quadros

JORNAL DO BRASIL

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