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Descascando a Bala - Paulinho da Viola

16/2/2009

Parece um detalhe minúsculo diante da grandiosidade do fato histórico que acabamos de presenciar, mas eu começo meu texto falando em quem? Nele, no Presidente Lula. Para ressaltar o que acho ser o vale profundo que separa nossos países.

Lula descasca uma bala, Obama a desembrulha. Lula joga o papel no chão e
acha isso perfeitamente natural; insiste que no mundo todo isso nem seria
notado. Obama, caso aceitasse comer uma bala durante solenidade oficial,
poria o papel no bolso até poder jogá-lo numa lixeira. É um detalhe? É, mas
daqueles fundamentais, como o sorriso da Mona Lisa: em toda a tela de da
Vinci, quanta beleza, quanto talento, quantos simbolismos. Mas o que mais
chama atenção? O pequeno detalhe do sorriso.

Obama foi eleito presidente dos EUA e não do mundo. Seu interesse
primeiro é seu país e o povo americano. Problemas internos, muito sérios,
não lhe vão faltar. Mas, pela primeira vez na história daquele país, foi
eleito um homem mestiço, filho de um queniano e de uma jovem do Kansas, que
passou parte da infância entre o Havaí e a Indonésia, teve oportunidade de
conviver com crianças e jovens de outras nacionalidades, de conhecer
outras religiões e filosofias, e que por mérito e esforço próprios cursou
boas universidades na Costa Leste. Isso o diferencia de todos os outros
presidentes americanos.

Sobretudo o diferencia de George W. Bush, rapaz muito rico, mas que até
ser presidente da República nunca tinha ido além do México. E assim mesmo
porque era muito perto de sua casa, talvez até considerasse aquele país a
continuação de seu quintal.

A eleição foi uma festa, uma linda festa que congregou, e aí está sua
maior beleza, a grande maioria dos americanos e não somente os brancos,
anglo-saxões e protestantes. Os EUA celebraram aquilo que já deveria ter
sido celebrado desde o fim da Guerra Civil, desde que imigrantes começaram
a desembarcar de navios abarrotados de gente no porto de Nova York.
Finalmente ouviram a voz da Estátua da Liberdade e responderam aos
agourentos que achavam aquela grande nação à beira do desaparecimento. Como
disse o presidente-eleito na noite de sua vitória: "Foi a resposta dada
pelos jovens e velhos, ricos e pobres, democratas e republicanos, negros,
brancos, latinos, asiáticos, índios, homos, heteros, inválidos e não
inválidos - somos e sempre seremos, os Estados Unidos da América".

Barack Obama viu mais longe que os outros; não podemos desmerecer a luta
e o sacrifício pessoal de Lincoln, de Martin Luther King, de Rosa Parks,
dos meninos de Little Rock. Mas Obama viu que o que uniria o país era a
força de seu "melting pot" em potencial, e não o ódio, não a vingança, não
o punho cerrado, mas o abraço.

Pode ser que ele não consiga realizar o sonho das multidões que vibravam
e choravam na noite de 4 para 5 de novembro. Seja como for, ele abriu a
porta, derrubou barreiras, rasgou a picada, deu os primeiros passos.
Torcida não lhe vai faltar.

Enquanto isso, no Brasil, o Chefe da Nação não diz duas palavras sem
atiçar o fogo, sem jogar brancos contra negros, pobres contra ricos,
instruídos contra iletrados, nordestinos contra sulistas, partidos contra
partidos, povo contra a Imprensa, todos contra todos. Não fala, grita,
berra. Esfalfado, ouve os uivos da platéia, acha que está sendo adorado, e
parte para outro palanque.

Criou um Ministério da Integração Racial que é tudo que nós menos
precisamos. Seu titular teve a idéia de criar a Delegacia do Negro!
Se um negro é assaltado, ele vai procurar a delegacia dele, não uma
delegacia qualquer.. Breve, delegacias para japoneses, coreanos,
chineses... e o nome disso é Integração Racial.

"Espero que Obama (...) não vá gastar um ano sem resolver imediatamente a
crise. Agora a crise pode ser debitada ao atual governo, mas um ano depois
de ele tomar posse é dele também", disse Lula. Quer dizer, o Obama não pode
apelar para a herança maldita do Bush! E ainda: "Acho que ele é
suficientemente inteligente para tomar as medidas para evitar que a crise
continue".

Pode deixar, Lula, Obama é brilhante. Peça ao Amorim para ler consigo o
site que ele inaugurou logo no dia 5, Change.gov. Vá direto à política
externa. É de chorar de emoção. Depois, leia todo o site e aprenda como se
faz política respeitando o povo, o eleitor, o cidadão. O dado concreto,
Lula, é que Change. gov é extraordinário!

As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender!

Paulinho da Viola

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