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O difícil emprego do PAC

14/2/2009

Apesar do discurso do presidente Lula, o próprio governo admite dificuldade de aproveitar mão de obra local nos projetos

Giovanni Sandes

Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários de seus ministros reforçaram, em dois eventos em Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, a implementação de um terceiro turno nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Somente na transposição do Rio São Francisco, segundo o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), serão 15 mil pessoas com carteira assinada. Há dois dias, Lula deixou clara a intenção de usar força de trabalho local, inclusive na construção da ferrovia Transnordestina, a fim de evitar migração para o entorno das obras. Falta, contudo, dar condição aos trabalhadores desses municípios para lutar pelo emprego. Dificuldade que é admitida pelo próprio governo.

“Decidimos que todas as obras do PAC que puderem ser contratadas para trabalhar 24 horas por dia, nós temos que contratar, para contratar três turnos, para contratar mais trabalhadores e mais trabalhadoras. De preferência, que a gente contrate as pessoas da cidade, as pessoas da localidade para a gente não trazer gente de fora para trabalhar no lugar de gente que está desempregada nas regiões mais pobres deste País”, discursou Lula, na última quinta-feira, em Salgueiro.

Desde o último dia 13 de janeiro, no entanto, num município a apenas 80 quilômetros de onde o presidente discursou, trabalha com carteira assinada o cearense Rogivânio Silva da Costa, 20 anos. Ele veio de sua terra natal, Morada Nova, a 172 quilômetros de Fortaleza, atrás de um emprego na cidade pernambucana de Cabrobó, a 531 km do Recife, onde agora é greidista – profissional que confere o andamento da terraplanagem.

“É minha segunda carteira assinada. Eu trabalhava no Ceará também na transposição. Saí em abril passado, fiquei um tempo em casa e soube que estavam com dificuldade de conseguir quem sabe fazer o trabalho. Fiz os contatos, trouxe uma roupinha e os documentos”, conta. Ele dorme no alojamento da construtora. Do que economiza, manda uma parte para sua mãe, que vive em Morada Nova.

A transposição, orçada em R$ 4,69 bilhões, compreende dois grandes canais – o Eixo Norte e o Eixo Leste –, que foram divididos em 14 lotes de obras. O Norte começa em Cabrobó, onde trabalha o cearense. Tem prazo até 2012 para conclusão, conta com 426 quilômetros e 15 barragens e envolve 21 municípios em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, caminho que Rogivânio pensa em percorrer. “Quando acabar aqui, vou saindo para onde tiver obra”, destaca o cearense.

O Eixo Leste da transposição parte de Floresta. Terá 287 quilômetros de extensão e 12 barragens, cobrindo cinco municípios em Pernambuco e na Paraíba. O governo corre para entregar esse canal até o final do ano que vem, antes do término do mandato de Lula.

De fato, com pouco mais de 2.000 trabalhadores hoje, a transposição já mobiliza muita gente. Mas nem todos têm a sorte de Marcelo Tarcísio da Silva, 19 anos. Desde o último dia 4, ele é motorista de caçamba no distrito de Rio da Barra, em Sertânia, a 316 quilômetros do Recife. “É meu primeiro trabalho fichado (de carteira assinada). Eu estou na luta mesmo desde pequeno”, lembra. Marcelo também manda um dinheirinho para a mãe, que vive em Caruaru, onde Marcelo nasceu, a 140 km do Recife. “Durmo aqui. Mas vou para Caruaru uma vez por mês”, promete.

Até alcançar os prometidos 15 mil postos de trabalho, além de acelerar o projeto, o governo precisa enfrentar a tarefa de aumentar a empregabilidade da população no entorno dos vários trechos da transposição.

“Essa dificuldade nós temos que superar. Há uma ideia, inclusive, de casar o cadastro do Bolsa-Família para que as empresas possam ter acesso à lista dos beneficiados”, antecipa o ministro da Integração. A proposta ainda será debatida com o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome). “A ideia principal é qualificar a mão de obra para encontrar uma porta de saída para os beneficiários do Bolsa-Família, principal crítica ao programa, ou, por outro lado, encontrar uma porta de entrada para a cidadania, para o trabalho”, adianta Geddel.

NEGÓCIO

Enquanto a mão de obra para a transposição vai sendo mobilizada, já aparecem as oportunidades indiretas de negócio. No município de Custódia, devido à baixa oferta de hospedagem, Mozeliano Xavier Lira, 29 anos, já alugou quatro casas para abrigar trabalhadores do consórcio OAS/Galvão/Barbosa Mello/Coesa, responsável pelo lote 11.

Mozeliano é comerciante desde os 20 anos, mas já vinha diversificando os investimentos. Começou com uma loja de material de construção, mas, agora, já está construindo outras seis casas, com perspectiva de alugar ao mesmo consórcio. “Devo entregar tudo em uns cinco meses”, avalia.

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