O Estado de São Paulo
PMDB domina Congresso e quer vaga de vice para 2010
Legenda recupera hegemonia perdida em 1992, com escândalo do Orçamento
O PMDB passou a controlar o Congresso com a eleição, ontem, de José Sarney (AP) para a presidência do Senado e de Michel Temer (SP) para a da Câmara. A vitória teve o apoio do Planalto, que abandonou a candidatura do senador petista Tião Viana (AC) e operou para ajudar Temer. A ação irritou os petistas -um deles, o deputado Walter Pinheiro (BA), disse que "0 PMDB vai mandar na sucessão do presidente Lula". Hegemônicos pela primeira vez desde 1992, quando estourou o escândalo dos anões do Orçamento, líderes peemedebistas falam até em lançar nome próprio para a sucessão presidencial. Na verdade, porém, o partido quer a vaga de vice - que pode ser tanto na chapa governista como na da oposição tucana. O PMDB, como é tradição, deverá cobrar caro pelo apoio ao governo em seus dois anos finais de mandato. Sarney e Temer anunciaram que vão votar todos os projetos apresentados pelo Planalto contra a crise econômica. Em seu discurso, Sarney rejeitou a afirmação de que a escolha dele foi um retrocesso: "O espírito público não envelhece". (págs. 1 e A4 a A8)
PMDB domina Congresso, fala em nome para 2010, mas mira vaga de vice
Pressão do governo na eleição da Câmara e abandono a petista no Senado garantiram vitória de Sarney e Temer
João Domingos
Com a eleição de José Sarney (AP) e Michel Temer (SP) para a presidência do Senado e Câmara, respectivamente, o PMDB passa a dominar o Congresso, mas sob as bênçãos do Palácio do Planalto. Sem se esquecer, como é da tradição do partido, de que cobrará caro pelo apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seus dois anos finais de governo. O resultado satisfaz ao Planalto, que atrai o PMDB para 2010. Vitaminado, o partido até fala em nome próprio para a sucessão, mas na realidade mira a vaga de vice.,
A estratégia de Lula na Câmara foi clara: operou para ajudar Temer, exigindo fidelidade dos petistas e liberando os ministros de outras legendas para fazer campanha. No Senado, bastou deixar que o novo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), coordenasse a candidatura de José Sarney.
Temer e Sarney foram eleitos com folga e sem sustos, o primeiro com 304 votos e o segundo com 49. No Senado, não foi possível executar a estratégia em favor de Sarney sem tornar ostensivo o abandono ao candidato do PT, Tião Viana (AC).
Quem sustentou a candidatura de Viana, durante longo tempo, foi o dissidente peemedebista Jarbas Vasconcelos( PE). O ministro das Relações Institucionais, José Múcio, do PTB, que participou de todas as reuniões pró-Temer no domingo, cuidou apenas de produzir frases burocráticas dizendo acreditar nas chances de Viana.
Os governadores petistas do Nordeste - Marcelo Déda (SE), Jaques Wagner (BA) e Wellington Dias (PI) - foram a Brasília e fizeram campanha para Temer, mantendo-se indiferentes ao candidato do PT no Senado. Este, que contabilizava 43 votos, teve 11 a menos.
Tanto Sarney quanto Temer anunciaram, em seus discursos, que vão montar uma agenda que ajude a combater a crise financeira global. Prometeram votar todos os projetos do governo para tentar aliviar a crise, manter o emprego e o crescimento econômico, além de permitir distribuição de renda.
""LULISMO""
Prevaleceu na eleição das duas Casas do Congresso o que o mundo político já chama de "lulismo", que se caracteriza pelo apoio ao Planalto, independentemente do que pense o PT. Desde que o presidente iniciou o segundo mandato, em janeiro de 2007, o "lulismo" prevalece sobre o "petismo".
"Foi muito ruim para o PT. Com as duas Casas, o PMDB vai mandar na sucessão do presidente Lula", declarou, alarmado, o deputado Walter Pinheiro (BA), um dos petistas vice-líderes do governo no Congresso. "Vamos acabar ficando nas mãos deles nas próximas eleições para a Presidência."
O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), concordou que o PMDB se fortaleceu muito. Mas disse que é preciso esperar. "A força do PMDB é grande. Hoje está com o presidente Lula, mas pode vir a apoiar outro candidato."
OLHO EM 2010
O PMDB já fala abertamente na sucessão. Dizem seus líderes que se cansaram de serem coadjuvantes: querem ser os protagonistas. "Temos nomes e condições de deixar de ser a noiva para passar à condição de noivo", disse o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE), futuro presidente do partido.
No entanto, como sempre acontece com o PMDB, não há consenso sobre a candidatura, pois o partido possui duas alas. Uma atua na Câmara e tem o comando partidário, com Temer, Eunício e Geddel Vieira Lima (ministro da Integração Nacional). A outra foi montada no Senado e tem Sarney, Renan, Hélio Costa (ministro das Comunicações), Edison Lobão (Minas e Energia) e Sérgio Cabral (governador do Rio).
Dividido, o PMDB fala também em indicar candidato a vice-presidente - ou na chapa do governo, com a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), ou da oposição, com o governador José Serra (PSDB). Nomes há. O próprio Eunício enumerou alguns deles: Cabral, Geddel, Temer e Lobão.