Brasília - A crise em 2009 será mais profunda do que se imaginava. Ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial será bem menor do que a entidade estimava há apenas dois meses, até mesmo em relação aos países emergentes. Para o Fundo, o mundo crescerá entre 1% e 1,5% em 2009 e estará em sua pior situação desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Essa será a terceira revisão do crescimento em 2009 feita pelo FMI em apenas quatro meses. Em novembro, o Fundo havia indicado que o mundo cresceria cerca de 2,2% em 2009. Em outubro, o crescimento previsto era de 3% para este ano.
Na avaliação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o novo quadro significa que o número de desempregados no planeta até 2010 vai superar a marca de 20 milhões de pessoas. O comércio também deve desabar, assim como os investimentos.
A nova estimativa do FMI será confirmada oficialmente na quarta-feira, com cortes de projeções também para os mercados emergentes. Os novos números ainda devem estabelecer o tom dos debates no Fórum Econômico Mundial de Davos, que será aberto na quarta-feira, sua edição mais sombria das últimas décadas.
Para o Brasil, a estimativa original do Fundo era de um crescimento de 3,5% em 2009, ante uma projeção do Banco Mundial de expansão de 2,9% no PIB do País. Para o Ipea, o Brasil precisaria crescer 4% para conter o desemprego.
O anúncio da revisão foi feito neste domingo pelo vice-diretor do departamento de mercados de capital do FMI, Axel Bertuch-Samuels, em uma declaração à agência Reuters, em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos. Mas, nas organizações internacionais, a notícia já era conhecida e novos números estão sendo produzidos em relação ao impacto social da nova queda.
"O crescimento será revisto para 1% a 1,5% em 2009, o que é enorme", afirmou. "As perspectivas econômicas globais se deterioraram nos últimos meses, a confiança de consumidores e empresários caiu para níveis que não víamos há décadas, e a atividade (industrial) caiu de forma importante", disse. "2009 será um ano muito desafiador para a economia mundial", disse.
Desde setembro, governos nacionalizaram bancos, injetaram trilhões de dólares nas economias, reduziram as taxas de juros para quase zero e anunciaram pacotes de incentivos.
Mas, ainda assim, a economia continuou em franca queda. A desaceleração no Japão, Europa e Estados Unidos está superando as previsões mais negativas. Parte do relativo entusiasmo do FMI em novembro ainda se baseava no fato - e esperança - de que alguns países emergentes poderiam continuar crescendo neste ano.
Emergentes
A tese de que os emergentes continuariam a crescer, mesmo com a queda das grandes economias, não foi comprovada. Na quarta-feira passada, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, já havia feito um alerta nesse sentido. "China, Índia, Brasil e outros países emergentes vão experimentar um crescimento muito lento", disse.
A China anunciou que seu PIB no último trimestre de 2008 teve crescimento de 6,8%, ante mais de 9% nos trimestres anteriores. Foi a maior queda em sete anos.
Na Índia, um grupo de economistas convocados pelo governo para avaliar a situação concluiu que o PIB do país cresceria 7% em 2009, ante uma previsão inicial de 9%. Em outubro de 2008, a Índia apurou a primeira queda de sua produção industrial em 15 anos. As exportações também sofreram a primeira redução real em volume e valor desde 2005.
Na Rússia, o governo já estima uma contração da economia de 0,2% em 2009. A previsão inicial era de um crescimento de 2,4%, depois de uma alta de 6% em 2008 no PIB. A queda foi tão grande que o primeiro-ministro, Vladimir Putin, ordenou uma revisão do orçamento nacional para o ano.
Para os países do Golfo Pérsico, o crescimento será de 5,1%, ante uma previsão inicial de 6,6%.
Para completar, os países ricos emitiram sinais nos últimos dias de que, de fato, a recessão em suas economias será mais profunda do que todos imaginavam. A Europa já admite que terá uma queda de PIB de 1,9% em 2009. Isso sem falar no crescimento negativo previsto para Estados Unidos e Japão.
O Reino Unido entrou em sua primeira recessão desde 1991 e a Alemanha enfrentará seu pior ano desde o fim da era de Adolf Hitler. Na Espanha, a festa acabou e a previsão é de encolhimento do PIB em 2%. Na Irlanda, chamada de tigre celta há poucos anos, a queda da economia deverá ser de 5%.
Fonte: Agência Estado