Valor Econômico
Paulo de Tarso Lyra, de Brasília
A bancada do PMDB oficializa a candidatura do senador José Sarney (AP) à presidência do Senado na próxima semana, provavelmente em almoço na residência oficial do atual presidente da Casa, Garibaldi Alves (RN). Dirigentes pemedebistas analisam uma forma de compensar Garibaldi, que abriu mão de disputar o cargo para que Sarney seja indicado, muito embora sua candidatura à reeleição seja juridicamente discutível. Pode ser a presidência de alguma comissão temática. Aliados de Sarney ainda esperam que Tião Viana (PT-AC) desista de concorrer, hipótese até agora rejeitada pelo petista.
O próprio Sarney deu início às articulações para acomodar Garibaldi em algum posto importante na Casa e enfraquecer a candidatura de Tião Viana (AC), que insiste em enfrentá-lo no plenário. Ontem, o ex-presidente passou o dia telefonando aos líderes da oposição para consolidar seu nome. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), prometeu um encontro amanhã, quando retornará a Brasília das férias nos Estados Unidos. O PSDB deve reunir a bancada na quarta-feira da próxima semana.
Sarney conversou anteontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele informou o presidente da decisão da bancada de escolher o candidato já na próxima semana. Explicou que o PMDB sempre entendeu que a vaga era do partido - por ser a maior bancada -, mas que "teria se sentido intimidado" quando, durante jantar da bancada com Lula no Alvorada - pouco depois do segundo turno das eleições municipais - o presidente disse que o PT também queria ter candidato próprio e que ele via com simpatia a candidatura de Viana. Candidatura que nunca decolou, na avaliação dos pemedebistas.
Ao todo, foram quatro conversas de Sarney com Lula. Nas três anteriores, o ex-presidente nunca disse explicitamente que seria candidato. Lula nunca escondeu que Sarney seria um candidato com seu apoio e capaz de aglutinar os partidos da base aliada. A demora do pemedebista em se posicionar embaralhou o jogo e deu brechas para que o petista Tião Viana se lançasse candidato.
Lula ouviu Sarney e avisou que, diante do quadro, o governo ficará neutro. Segundo auxiliares do presidente, não existe mais espaço para o presidente pedir que Viana retire sua candidatura. "Se em 2007, quando o presidente manifestava clara preferência pela reeleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), não teve forças para brecar a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP), como poderia agora pedir algo para Tião Viana?" indagou um ministro ligado a Lula.
Segundo interlocutores do governo, a resistência de Sarney em se definir complicou as coisas. "Se Sarney tivesse, desde o início, dito que seria candidato, nada disso teria acontecido", afirmou um aliado. Na sexta-feira, uma reunião da cúpula do PMDB do Senado bateu o martelo em torno do nome de Sarney. A avaliação é de que Viana vai esgarçar o quadro mas que, na undécima hora, às vésperas da disputa, abrirá mão de sua candidatura "em nome da governabilidade".
O PMDB acha que tem votos suficientes para eleger Sarney. Além de unificar os 20 nomes da bancada, Sarney contaria com o voto do Democratas e poderia chegar à maioria no PSDB. A resistência de parte do tucanato partiria do governador de São Paulo, José Serra, adversário político e desafeto de Sarney, interessado em facilitar a candidatura de Michel Temer (PMDB) na Câmara. Por outro lado, alguns tucanos sentem desconforto em apoiar um nome do PT à presidência da Casa, desrespeitando o princípio da proporcionalidade e fortalecendo o principal adversário nas urnas em 2010.
No governo, a ordem é deixar que os senadores e os partidos resolvam a questão. Com Garibaldi fora do páreo, a situação do Executivo ficou mais cômoda: tanto Sarney quanto Viana são aliados e, em qualquer cenário, será eleito um presidente com afinidade com o Planalto. Garibaldi, sem esconder o desapontamento, admitiu a derrota, dizendo que respeitará a decisão dos demais senadores da legenda. "Eu reconheço que a candidatura Sarney terá mais força e segurança. A minha enfrenta questionamentos jurídicos, embora eu tenha vários pareceres que me autorizam disputar a reeleição", declarou um abatido senador. (Com agências noticiosas)