Beneficiária reclama do preço dos alimentos e lamenta que roças estejam sendo abandonadas
Maria Raimunda Martins, de 68 anos, aposentada, recebe R$ 80 mensais do Bolsa Família, pois cria uma neta em idade escolar. Beneficiária do programa federal, está vendo as roças encolherem ou desaparecerem em Presidente Vargas.
As famílias estão se mudando para a cidade e agora compram tudo no armazém.
— Não se vê um pé de macaxeira plantado, mas tem muita pobreza, pois as coisas são caras por aqui. Um litro de óleo custa R$ 4, um quilo de arroz, R$ 2. Seria melhor que o governo desse um emprego. Todo mundo teria salário — afirma.
Araildes Rodrigues Santos, de 36 anos, coordenadora da Pastoral da Criança no município, vive no dia a dia o desafio de combater a desnutrição infantil.
Recentemente, a Pastoral promoveu um curso de alimentação alternativa, para mostrar como se usam cascas de banana, caju, folhas de mandioca e outros ingredientes disponíveis na região para fazer pratos nutritivos e saborosos e, quem sabe, tirar dali uma nova fonte de renda.
— Tinha 20 vagas, mas só cinco mulheres fizeram o curso.
As famílias não demonstram interesse nos treinamentos.
Não dão continuidade ao trabalho (de treinamento e qualificação). Recebem o recurso e se acomodam. Isso é real — afirma Araildes.
A Pastoral trabalha com 120 voluntários e produz uma multimistura que combate a desnutrição, formada por folhas e sementes de alimentos da região.
Atende, no momento, 50 gestantes, 1.500 crianças e 500 famílias.
— Antes tinha plantação de arroz e macaxeira. A roça diminuiu e agora compram os alimentos no comércio. O Bolsa Família era para ser um complemento, mas as famílias usam o benefício como única e exclusiva fonte de renda.
A própria Araildes é um exemplo de força de vontade — casada, três filhos, cuida da casa, faz trabalho voluntário na Pastoral, trabalha no programa Pró-Jovem como orientadora social e ainda estuda pedagogia num curso de extensão da Universidade do Maranhão, nos fins de semana.
Ela acredita que, se as condicionalidades aumentarem, a tal porta de saída para o Bolsa Família pode virar realidade.
— Não tem jeito. O povo só vai sob pressão.
Alunas do curso de manicure venderam os kits Em Cajapió, a realidade é semelhante.
Marinalva Petrosa, assistente social gestora do programa, conta que recentemente foi oferecido um curso de manicure, mas participantes venderam os kits fornecidos no treinamento. Outra barreira identificada nesses treinamentos é o analfabetismo.
— Às vezes, as pessoas são chamadas, mas se sentem inibidas.
Os homens, principalmente, não aceitam participar — relata o coordenador do programa em Cajapió, Alteredo Jesus Costa Filho.
CAJAPIÓ E PRESIDENTE VARGAS.
O Globo