De junho a outubro deste ano, 102 crianças morreram na Urgência Pediátrica do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) – que atualmente funciona na Maternidade Hildete Falcão – em um universo de 15.656 atendimentos. Segundo a coordenadora de Pediatria do Huse, Christianne Souza Barreto, a taxa de mortalidade é pequena quando levado em consideração o número total de pacientes atendidos e a alta gravidade dos casos.
“A maioria dos pacientes morre com menos de 48 horas depois da entrada porque já chegam com o quadro muito grave, que não conseguimos estabilizar. As pessoas devem entender que o hospital é de alta complexidade e recebe todos os casos de complicações oriundos das urgências pediátricas do Hospital Santa Isabel e do Fernando Franco, que são de baixa complexidade, como também do interior da Bahia”, explicou Christianne.
Das 17 mortes ocorridas na Urgência Pediátrica do Huse em outubro, dez foram na Central de Tratamento Intensivo (CTI), seis no Pronto Socorro e apenas uma na internação. “É possível notar que a maior quantidade ocorreu justamente na CTI, onde ficam os pacientes mais graves”, acrescentou a coordenadora. Ela informou o número de óbitos registrados na urgência nos últimos cinco meses: 26 mortes em junho, 28 em julho, 20 em agosto, 11 em setembro e 17 em outubro.
Já o Sindicato dos Médicos de Sergipe (Sindimed) afirmou que o número de mortes está acima da média. “Para o sindicato essa é uma tragédia já anunciada pelo conhecimento das deficiências do serviço de saúde que é ofertado à população. Sabemos que o Hospital de Urgência de Sergipe Governador João Alves é um hospital de alta complexidade e, em função disso, deve oferecer recursos e serviços compatíveis à gravidade das patologias de seus pacientes”, argumentou o Sindimed em nota à imprensa.
Quanto à escala de pediatras, Christianne explicou que a mesma está completa e vai aumentar a partir de dezembro, quando o Huse receberá 119 novos médicos aprovados no último concurso, sendo sete pediatras. “Temos hoje quatro plantonistas para o primeiro atendimento, um plantonista na UTI e também um plantonista que deixamos no Huse para o caso de chegar alguma criança em estado grave. Também temos na escala nove pediatras diaristas, que acompanham o internamento, examinando os pacientes”, argumentou a coordenadora de pediatria do Huse.
Leitos de UTI
Atualmente, a Urgência Pediátrica do Huse é a única unidade de saúde de Sergipe, entre públicas e particulares, que conta como uma UTI especializada no atendimento só de crianças. São apenas sete leitos de UTI pediátrica para atender toda a demanda do Estado. “Hoje nem os hospitais particulares têm UTI Pediátrica. Com o término da reforma do Huse, aumentaremos a capacidade para 17 leitos, sendo 10 de intensiva e sete de semi-intensiva”, informou a coordenadora Christianne Barreto, acrescentando que a reforma deverá ser concluída em março do próximo ano.
Fernando Franco abre setor pediátrico
Hoje, o Hospital Municipal Fernando Franco (Zona Sul) inicia as atividades do novo setor de urgência e emergência pediátrica. A unidade, que já disponibiliza o serviço de internamento pediátrico, vai oferecer diversos serviços, proporcionando mais conforto e agilidade no atendimento ao público infantil. Com espaço amplo, a nova ala possui uma estrutura totalmente adaptada para acomodar crianças e acompanhantes. Ao todo são 18 leitos, entre oito berços e dez poltronas reclináveis para crianças mais velhas, além da área de isolamento - específica para casos de pacientes com doenças infectocontagiosas.
O local conta, ainda, com sala de aerosol com capacidade para 15 crianças e sala de estabilização infantil com incubadora, para atender recém-nascidos. A unidade tem também uma sala reservada para coleta de sangue e aplicação de injeções, e banheiros adaptados com fraldário para os pequenos pacientes.
A enfermaria, que já funciona no local, disponibiliza 15 leitos em duas salas de internamento pediátrico para atender casos de baixa e média complexidade. Também foi montada uma brinquedoteca, para tornar o ambiente mais descontraído para as crianças.
SE precisa do triplo de leitos de UTI
Um estudo elaborado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) revelou que Sergipe tem 177 leitos de UTI, o que corresponde a 0,9 leitos para cada 10 mil habitantes, enquanto o ideal seria, segundo a Amib e o Ministério da Saúde, de 1 a 3 leitos para esse total de pessoas. Para o presidente da Sociedade de Terapia Intensiva de Sergipe, José Albérico de Lira, seria necessário no Estado de três a quatro vezes mais leitos de UTI. Apesar das dificuldades, ele disse que a profissão de médico intensivista, comemorada ontem, é gratificante.
“Temos observado uma carência maior de leitos de UTI no setor público. Uma vez por outra há congestionamento na rede privada, problema que foi equacionado com o surgimento do Hospital Primavera”, informou José Albérico. Ele recebeu a informação que há a possibilidade de um incremento de 60 leitos de UTI no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) e, por isso, visualiza outro problema. “Onde serão buscados os profissionais qualificados?”, questionou.
Isso porque, atualmente, Sergipe conta apenas com 22 médicos intensivistas, sendo que apenas 15, aproximadamente, estão na ativa. “Alguns têm outra especialidade e atuam como médico intensivista de forma secundária. Isso se deu pela falta de valorização do profissional, que não é reconhecido pelas instituições hospitalares e fontes pagadoras”, analisou José Albérico.
Ele falou ainda sobre o dia-a-dia do médico intensivista. “O ambiente de UTI é estressante, pela própria condição do paciente, que impõe uma ação mais enérgica do intensivista, que é o médico, o enfermeiro, o fisioterapeuta e outros profissionais de saúde. Paralelo a isso, tem a cobrança da família e isso gera uma instabilidade emocional nos profissionais”, explicou o presidente da Sociedade de Terapia Intensiva de Sergipe.
Por outro lado, ele confessou que a profissão é gratificante, principalmente quando o médico
intensivista consegue reverter o quadro do paciente. “Assistir um paciente com eminência de morte e conseguir recuperá-lo é o mais gratificante. Hoje a UTI não é mais um local de óbito. Quando o paciente está em estado terminal aconselhamos que ele fique junto à família. Só fica na UTI quem tem perspectiva de recuperação, mesmo que reduzida”, informou.
Brasil
O censo realizado pela Amib mostrou que o Brasil tem 1,3 leitos de UTIs para cada 10 mil habitantes, sendo que regiões inteiras, como o Nordeste, ainda estão abaixo desse índice. No Brasil existem 2.342 unidades de UTI, que totalizam 25.367 leitos. O estudo revelou ainda a distribuição dos estabelecimentos que têm UTI, segundo o tipo de paciente atendido: 95,5% mista, 27,1% neonatal, 16,1% pediátrica, 9,6% coronariana, 4% clínica, 3,2% cirúrgica, 0,6% queimados e 8,8% outras.
O primeiro estudo que apresenta o cenário das UTIs no Brasil foi feito pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), em parceria com a New BD. Para se chegar aos resultados foram utilizados dados secundários oficiais disponíveis no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde e no IBGE. A partir daí foram avaliados alguns aspectos, como a distribuição regional dos estabelecimentos que declaram possuir leitos de UTI; a caracterização dessas UTIs segundo o tipo de leito; a disponibilidade de leito segundo a população residente e os principais equipamentos disponíveis nessas unidades.
Fonte: Jornal da Cidade - Janaina Cruz
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