Atendendo ao requerimento do deputado estadual Venâncio Fonseca (PP), a Assembleia Legislativa realizou hoje, 12, a primeira sessão plenária itinerante em Boquim. O cenário diferente não alterou a importância do assunto abordado por todos os parlamentares presentes: a citricultura da região Centro Sul do Estado, formada por 14 municípios. Ao final das discussões sobre o setor, os deputados decidiram formar uma comissão, com apoio da bancada federal e dos senadores, com objetivo de buscar alternativas e expor o problema da inadimplência e da crise da citricultura ao governador em exercício Belivaldo Chagas. O encontro deve acontecer na próxima semana.
A deputada Angélica Guimarães (PSC) presidiu a sessão e ressaltou a importância da Assembleia Legislativa estar em uma região de destaque para o Estado. “Hoje, vamos promover uma discussão sobre a citricultura do estado de Sergipe e essa sessão itinerante representa a Casa do Povo. É uma honra receber aqui autoridades, deputados e representantes do setor”, falou a deputada ao dar início aos trabalhos.
A crise da citricultura foi um dos principais assuntos abordados por deputados tanto da situação quanto de oposição. O deputado estadual Augusto Bezerra (DEM) destacou que o Estado não possui uma política da citricultura, o que deixa os produtores desamparados. “Sergipe é o terceiro produtor nacional de laranja, fica atrás de São Paulo e da Bahia. No entanto, as pessoas estão endividadas e não têm como manter seus pomares. Está terminando o terceiro ano do atual governo e nada foi feito pelo setor, que vive uma realidade caótica: produtores quebrados, falidos e endividados. O povo da região não quer esmola, quer condições para trabalhar”, criticou Bezerra, pedindo anistia para as dívidas dos citricultores.
Para o deputado estadual Antônio Passos (DEM), os governos Federal e Estadual, têm obrigação de criar medidas para os citricultores e acrescentou que não bastam soluções paliativas, que não resolvem a crise enfrentada pelo setor. Passos lembrou que o Brasil era o maior exportador de sucos de laranja para a América do Norte, sendo os Estados Unidos um dos grandes importadores do produto. “Agora, não temos mais mercado para comercializar os sucos extraídos das laranjas. Os citricultores não têm como renovar seus pomares. Precisamos de investimento, para garantir o sustento de pessoas que vivem da citricultura. Cabe ao governo, com recursos públicos, tentar minimizar o sofrimento dessas pessoas”, defende o deputado.
União de forças
Passos elogiou a iniciativa da sessão itinerante da Assembleia Legislativa e acredita que foi aberto um canal de negociações para tirar os produtores da crise. Em Boquim, os esforços dos deputados estaduais foram além de siglas dos partidos e posições políticas. “Em todo Parlamento existe oposição e situação, mas é importante destacarmos que os deputados, sempre que sobem à tribuna da Casa, busca atender as reivindicações do povo sergipano. Vamos nos unir à bancada federal e aos senadores para pedir anistia aos produtores que estão inadimplentes com os bancos federais”, sugeriu Mitidieri.
O deputado estadual Arnaldo Bispo (DEM) acredita que a anistia da dívida dos citricultores com os bancos não deve ser difícil, acrescentando que este benefício já foi oferecido para outros setores do mercado brasileiro. “A citricultura está passando por um processo de declínio, cor causa da ação das pragas, da falta de renovação dos pomares e dos juros elevados das dívidas dos produtores. Falta ao Brasil uma política agrícola forte para todos os setores”, alertou Bispo.
O autor do requerimento e líder da oposição, deputado estadual Venâncio Fonseca (PP), agradeceu à Presidência da Assembleia Legislativa pelo apoio para a realização da sessão plenária itinerante em Boquim, cidade natal de Venâncio e acredita que este encontro ficará marcado na história do município. “Estamos hoje no berço da citricultura, no coração da citricultura de Sergipe. Esta cidade, que deu exemplo ao Brasil de como se faz uma reforma agrária pacífica, sem a necessidade de invadir terra de ninguém”, destacou Venâncio Fonseca, lembrando que Boquim já foi o segundo maior produtor de laranja do Brasil, mas expressou sua angústia com a atual situação do município, que realiza neste fim de semana a 41º Festa da Laranja. “Mas não há o que comemorar. Vai ter a festa para ser mantida a tradição do município, lamentou.
Crise
Venâncio Fonseca disse que esta não é a primeira crise que a citricultura atravessa, mas a pior e atribui a situação à falta de iniciativa do governo. “Vocês conhecem algum projeto do governo voltado para a citricultura? Pelo amor de Deus, me mostre um para que eu possa debater com os 14 municípios que formam a região citrícola de Sergipe. Este governo é lento, só tem gogó e falácia”, criticou o deputado. O pronunciamento inflado do líder da oposição credita a falência do setor ao atual governo e disse que é preciso cobrar para que os produtores encontrem uma alternativa no fim do túnel.
“Vamos fazer uma carta proposta em nome dos 14 municípios para ir ao Palácio do Governo e entregar ao governador informando quais são as solicitações dos citricultores. Ninguém mais agüenta esta crise. Precisamos deixar de lado as divergências políticas e dar as mãos para salvar a citricultura de Sergipe”, propôs Venâncio Fonseca.
A deputada estadual Ana Lúcia (PT) parabenizou o parlamentar Venâncio Fonseca pela autoria do requerimento criando a sessão plenária itinerante em Boquim, mas atribuiu o evento ao esforço de todos os deputados da Assembleia Legislativa, que aprovam a iniciativa por unanimidade. Ela defendeu o governo estadual e ressaltou que a crise que o setor atravessa já completou 15 anos. “O governador Marcelo Déda tem dialogado sim com o setor. Tem realizado ações, como a presença do suco de laranja nas merendas escolares, que já atende a 40 municípios do Estado. O grande problema da citricultura é a dívida, que já dura 15 anos, portanto, não é do atual governo”, rebateu a deputada.
Ação do governo
A deputada petista acrescentou que o presidente da República Luis Inácio Lula da Silva veio do Nordeste. “Nós não mudamos o regime de um País. Vivemos em um regime que chora a pobreza e a miséria. O governo Marcelo Déda é um governo de todos. Está promovendo ações para fortalecimento do pequeno produtor do nosso Estado. Aprovamos uma lei que protege este setor e hoje já somam 27 mil adimplentes, graças ao Pronaf. O governo não fez só a Mão Amiga, comprando suco, ou subsidiando a produção. Está também reativando a pesquisa da citricultura, através da Embrapa”.
Ana Lúcia informou que amanhã, 13, o senador Almeida Lima convocou os deputados estaduais para discutir o orçamento do próximo ano. “É neste dia, neste evento que temos que discutir o endividamento da citricultura e temos que articular com os estados da Bahia e de São Paulo formas para resolver esta questão. É quando devem ser discutidas medidas e emendas federais para buscar alternativas para resolver este problema”, disse a deputada.
Mônica Azevedo da Agência Alese