Ofensiva de Lula deve pôr Chávez no Mercosul hoje
Líder do governo garante voto de 13 integrantes de comissão no Senado, contra no máximo 6 da oposição
Depois de o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva cabalar votos, a Comissão de Relações Exteriores do Senado deve aprovar hoje, com folga de votos, o ingresso da Venezuela no Mercosul, tal como estabelece o Protocolo de Adesão, assinado em 4 de julho de 2006, em Caracas.
Em vez de reabrir negociação para que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) pudesse rever seu parecer contrário à entrada da Venezuela no bloco, a base governista decidiu derrotar a oposição no voto.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), apresentará seu voto em separado, favorável à inclusão da Venezuela, com a assinatura de apoio de 13 integrantes da comissão, oito deles titulares. A oposição terá, no máximo, seis votos do PSDB e do DEM.
Apesar da previsão tranquila de dois votos favoráveis para cada manifestação de veto da oposição - que combate o governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez -, Lula entrou pessoalmente na negociação. O senador Fernando Collor (PTB-AL), por exemplo, que avançara em sua posição contrária ao ingresso da Venezuela, defendendo publicamente seu ponto de vista, vai facilitar a vida do governo na comissão, ausentando-se da votação.
Quem votará no lugar de Collor será o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que quer ampliar o Mercosul, embora esteja de acordo com todas as ressalvas feitas por Tasso, como a falta de democracia, de imprensa livre e de regras estáveis no país vizinho.
O mesmo ocorreu com o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). Antes de assinar o voto em separado de Jucá, ele também recebeu um telefonema do presidente, preocupado em certificar-se do apoio do socialista.
"Não se pode afirmar que a Venezuela vive sob um regime que não admite oposição e contestação", diz Jucá, em seu parecer. Para ele, a Venezuela tem uma imprensa "bastante atuante, que faz oposição ferrenha ao governo Chávez, o que assegura a divulgação livre de informações própria dos regimes democráticos".
O problema, a seu ver, está na "guerra midiática entre governo e oposição".
VIOLAÇÕES
Quanto às violações de direitos humanos denunciadas em relatórios de alguns organismos internacionais, Jucá argumenta que essas entidades nem sempre são neutras e, portanto, os documentos não podem ser vistos como uma descrição perfeita da realidade, uma vez passíveis de motivações políticas.
O senador acrescenta, ainda, que o próprio Brasil não pode ser encarado como um modelo, no que tange ao respeito aos direitos humanos. "Infelizmente, ainda há tortura contra presos comuns, trabalho em condições de escravidão, discriminação de gênero e raça, entre outros problemas."
O voto em separado do líder também chama a atenção para o "excelente relacionamento" entre os dois países no governo Fernando Henrique Cardoso, a quem Chávez chamava de "mi maestro".
Ele recorda que a relação com o país foi consideravelmente ampliada ao longo dos dois governos de FHC, que fez cinco visitas a Chávez e, segundo o líder, além de ter condenado o golpe contra o venezuelano, foi o primeiro presidente brasileiro a falar na participação do país vizinho no Mercosul.
Christiane Samarco, BRASÍLIA
O Estado de São Paulo
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