O Jornal Nacional exibido pela TV Globo, nesta terça-feira (27), trouxe relatos de brasileiros que têm um parente dependente de crack. E que buscaram ajuda no sistema público de saúde pra tentar recuperar essas pessoas. Tirá-las do vício. Ao repórter Alberto Gaspar, elas contam as dificuldades que tiveram que enfrentar.
Só o quartel da Polícia Militar de Goiás aceitou ficar com o filho de uma mulher, viciado em crack. Ela pediu socorro depois de ser ameaçada dentro de casa.
“Ele foi, pegou a faca, veio pra me esfaquear. E também pegou a avó dele, jogou no chão, empurrou e começou a dar murros nela. Se eu não denunciasse ele, ou ele matava eu e minha mãe ou ele ia se matar no crack ou morrer na mão de traficante”, contou a mãe.
O rapaz vai passar 45 dias no quartel, na companhia de menores infratores, e sem tratamento. Dizem que o médico só passa lá de 15 em 15 dias.
Em Sergipe, outra mãe desesperada entregou os filhos, de 13 e 14 anos, viciados em crack, ao Ministério Público. Diz que é R$ 1,2 mil para internar. Eu não vou internar porque não tenho condições. E eu não tenho mais o que fazer não, vou matar? Vou amarrar?, pergunta a mãe. Com a ajuda dos promotores, os meninos foram internados num hospital público no fim da tarde.
A busca, na Justiça, por aquilo que o estado não tem oferecido espontaneamente, é cada vez mais comum. Não é o caminho ideal. Apenas, o possível.
O correto é que o poder público percebendo esta demanda, sendo alvo de repetidas ações por parte do Ministério Público já providencie isso, sem que outras famílias e outras pessoas tenham que sofrer, tenham que passar pelo mesmo calvário durante muito tempo, fazendo com que o poder público na área da saúde possa prestar o serviço que é sua incumbência constitucional prestar, disse Luiza Nagib Eluf, procuradora de justiça do Ministério Público de São Paulo.
Nem Justiça, nem polícia. O dependente químico tem direito a médicos, a tratamento especializado. Não de algumas horas, não de uns poucos dias, diz uma psicóloga e mãe de um ex-viciado em crack. Ela pagou o tratamento dele por conta própria e com a ajuda da família.
No mínimo seriam uns 3 meses internado. O governo deveria dar essa assistência para as famílias. A cracolândia tá lá. Aquele menino que muitas vezes eu passo e vejo, olho, podia ser meu filho. É muito triste. Cada mocinho que vejo lá é muito triste e ele não teve a sorte que eu tive, que meu filho teve, graças a Deus. Mas aquele menino não é um bandido. É um ser humano que não teve o apoio do governo, porque o governo não está nem aí”, disse a psicóloga Sonia Porto.
Também de uma família de classe média, dona Maria luta na Justiça para que o plano de saúde pague o tratamento da filha, de 22 anos. A moça chegou a ser algemada, a pedido da mãe.
“O plano de saúde só te dá 15 dias por ano pra você tratar seus filhos”, disse, sem se identificar.
Ela tentou hospitais públicos. “Não consegui, era negado sempre. Só através do particular e eu continuo com liminar, porque não tem jeito. Pra dependente química de crack, internação voluntária não existe. Porque a compulsão é muito grande, ele troca a vida deles pela droga, a família pela droga, tem que ser involuntário, não tem como”.
Fonte: Faxaju
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