Imitações de smartphones feitas na China são telefones burros que usam peças frágeis e não passam por controle de qualidade
Rio - Parece um negócio da China: celulares inteligentes com MP3 player, câmera, receptor de televisão, e mais uma penca de recursos por cerca um terço do preço das lojas. Basta uma pesquisa no Google ou um passeio nos mercados populares para constatar que celulares fabricados na China e vendidos sem nota fiscal são uma enorme tentação para o consumidor que quer desfrutar de alta tecnologia sem gastar muito.
Seduzido pela aparência, que imita marcas conhecidas, o consumidor que opta por um desses aparelhos está levando gato por lebre. Parece um smartphone cheio de recursos, mas é um aparelho feito com tecnologias ultrapassadas e componentes de qualidade inferior, não raro tóxicos. E pior: fabricado sem nenhum controle de qualidade, o que pode representar risco à saúde e à segurança do consumidor.
“A maioria usa componentes bastante ultrapassados, como sensores VGA que usam a interpolação por software, coisa da década passada”, explica Carlos Morimoto, criador do site Guia do Hardware e autor de 17 livros técnicos, inclusive um sobre smartphones.
Ele testou um clone “made in China” de N95 e outro de iPhone, ambos à venda pela Internet. Segundo Morimoto, eles têm apenas funções básicas, como agenda, editor de texto, reprodução de áudio (MP3 e AAC), e de vídeo ( 3GP), uma câmera que tira fotos borradas e um navegador WAP, sem suporte a 3G ou Java. “Apesar do preço convidativo, são celulares burros. O sistema operacional não se compara ao Symbian ou ao Windows Mobile”, avalia o especialista.
E o que têm de bonitos, os clones têm de frágeis. “Qualquer queda leve e um dos cantos, ou a tela, se quebra. A pintura descasca, encaixes quebram com facilidade”, relata.
O problema desses celulares não é serem feitos na China, mas serem imitações, não raro contrabandeadas. Isso significa que os aparelhos não passaram por testes de qualidade exigidos pela Anatel.
“Não há como checar a origem dos componentes. O íon-lítio usado nas baterias é altamente volátil. Em altas temperaturas, a bateria pode explodir”, explica Marcos de Souza Oliveira, gerente de Engenharia de Espectro da Anatel.
Segundo a coordenadora da Pro Teste, Maria Inês Dolci, compra sem nota é uma furada. “Em caso de defeito, o consumidor não tem como exigir seus direitos. O barato sai caro. O preço não vale o risco que ele corre”, explica.
A garantia do vendedor, sem nota fiscal, também é um risco para o consumidor. “Essa garantia sem nota não tem validade para a Justiça”, explica Estela Guerrini, advogada do Idec.
MP5, MP7, MP9, MP10...
Fabricantes pegaram carona nas siglas MP3 e MP4, que identificam formatos de áudio e vídeo, e lançaram MP5, MP7, MP9, MP10, MP12. São apenas nomes comerciais.
O MP3 é um formato comprimido e com perdas, ou seja, parte do conteúdo é descartada para que o arquivo fique menor. MP4 é a mesma ideia aplicada a vídeos. O resto é nome fantasia. Alguns fabricantes, ao adicionar uma nova função a um MP3 player, passaram a chamá-lo MP5, e assim em diante. Siglas como MP5, MP7, MP9, MP10, MP12 são usadas para identificar celulares multifuncionais feitos na China.
Testes da Anatel
O selo da Anatel garante que o celular passou por testes de qualidade e segurança, e obedece os padrões técnicos adotados no Brasil. São avaliadas funcionalidades (se celular funciona como prometido no manual), compatibilidade eletromagnética (se funciona em ambientes com outros aparelhos) e segurança elétrica (se a bateria do aparelho respeita as exigências do fabricante, e se não há riscos de fogo e explosão). Os testes podem durar mais de dois meses. As amostras de aparelhos são submetidas a choques, temperaturas extremas, riscos de explosão, noite e dia durante vários dias. O selo fica atrás da bateria.
POR MARLOS MENDES , RIO DE JANEIRO
Fonte: O Dia Online