Maceió tem a maior taxa de mortes; grupos de extermínio agem na cidade
BRASÍLIA e MACEIÓ. Há cinco anos, o funcionário público Sebastião Pereira dos Santos, de 69 anos, anda pelos corredores de todos os órgãos públicos de Alagoas. Procura o corpo do filho, o servente Carlos Roberto Rocha Santos, 31, assassinado a tiros em 2004. O corpo de Carlos Roberto “sumiu” do Instituto Médico-Legal horas depois de ele ter sido assassinado, em 12 de agosto de 2004.
Sem corpo, não havia como provar o crime. Carlos Roberto era usuário de maconha. Foi morto, de acordo com a versão da polícia, como um traficante de drogas. Mas o pai nunca aceitou essa versão: por iniciativa própria, o funcionário público conseguiu fotos da autópsia, feitas antes do sumiço do corpo, e ajudou a desarticular um grupo de extermínio que seria comandado pelo ex-deputado estadual cabo Luiz Pedro da Silva. Luiz Pedro e mais três executores do crime, entre eles o policial militar Naelson Osmar Vasconcelos, foram julgados e condenados.
Histórias de violência, impunidade e o tráfico de drogas colocaram Maceió no topo da lista das capitais mais violentas do Brasil, segundo o Ministério da Justiça. Em 2008, em Maceió, houve 66,2 homicídios por 100 mil habitantes. No Rio, foram 33 e em São Paulo, 10,8. Os dados deste ano não foram fechados, mas já indicam mais de mil assassinatos.
Maceió não é um caso isolado no Nordeste. Mesmo com crescimento econômico superior à média nacional, as capitais do Nordeste vêm sendo castigadas pelo aumento da criminalidade.
Entre 2006 e 2007, em seis das nove capitais da região, os homicídios cresceram. Em Maceió, a taxa de homicídios saltou de 85,54 por 100 mil habitantes em 2006 para 88,07 em 2007.
São índices comparáveis aos de Medellin, na Colômbia, na época em que o narcotráfico fez da cidade um dos centros urbanos mais violentos do mundo.
Os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde mostram aumento da taxa de assassinatos por grupo de 100 mil habitantes também em João Pessoa, Salvador, Fortaleza, São Luís e Natal.
Em João Pessoa, a taxa pulou de 38,83 para 47,56; em Salvador, onde a violência já estava em patamares elevados, a taxa subiu de 40,92 para 46,24. A mesma curva ascendente de violência foi verificada em São Luis, onde os índices de assassinatos passaram de 26,94 para 31,54.
Região tem crescimento econômico acima da média Em Fortaleza, os homicídios aumentaram de 31,20 para 36,57; em Natal, de 18,74 para 26,20. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2006 e 2007, a violência só foi refreada em Recife, Teresina e Aracaju. Recife se mantém como a segunda cidade mais violenta da região. A capital de Pernambuco tinha, em 2007, 67,69 homicídios por 100 mil habitantes. Em 2006, esta taxa era de 69,49. A média nacional é de 22 assassinatos por 100 mil habitantes.
A violência pode parecer mais surpreendente se comparada com o desempenho da economia na região. Pelas informações do governo federal, os índices de violência nas capitais nordestinas, que vinham aumentando desde a década passada, mantiveram a tendência de alta mesmo nos últimos anos. Neste período, o crescimento econômico da região superou a média nacional.
Para o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, muitas vezes a produção de riquezas provoca aumento de população e, com isso, o incremento de choques sociais: — Quanto mais acelerado o ritmo do crescimento econômico, maior é o inchaço dos centros urbanos e maiores as possibilidades de conflitos.
Balestreri diz que as taxas de homicídio não são suficientes para aferir com rigor se, de fato, a violência está aumentando. O secretário argumenta que nem todos os crimes são devidamente registrados. No caso de Maceió, ele atribui o aumento da violência aos assassinatos de encomenda. Para ele, a situação é tão específica que não se pode responsabilizar o governo ou outra autoridade local.
Ballestreri afirma que o governo federal está recorrendo ao Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) para fazer investimentos pesados na região. Mas ele calcula que resultados virão em três ou quatro anos.
O pai do servente Carlos Roberto Santos viu o cabo Luiz Pedro, condenado pela morte do filho dele, se eleger em 2008 depois de fazer campanha da cadeia, com um vídeo gravado em um celular, passado no horário eleitoral gratuito. Um habeas corpus livrou Luiz Pedro da prisão e ele foi empossado na Câmara.
Hoje, só um dos condenados pelo crime está preso.
— Não matei ninguém — disse o vereador.
— Vou ser assassinado. Tenha certeza — diz Sebastião
Jailton de Carvalho e Odilon Rios - O GLOBO