A qualidade de vida e as belezas naturais de Sergipe não têm atraído apenas turistas. Traficantes e integrantes de facções criminosas com atuação no sudeste do país e até do exterior têm visto o Estado como um mercado promissor para suas operações criminosas. No entanto, as ações desenvolvidas pela polícia têm impedido que o crime organizado se estabeleça por aqui. A prisão do ex-integrante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs), Joan França Pinheiro, o “Colombiano”, 29, que teria ligação com o traficante Fernandinho Beira-Mar, é uma prova disso. Anteontem, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) solicitou da Secretaria de Segurança Pública (SSP) informações sobre a prisão do acusado. A prisão de Joan França foi noticiada em grandes jornais da Colômbia.
“O grande traficante tem procurado novos mercados, principalmente onde não há nenhuma facção criminosa instalada”, explica o diretor do Departamento de Narcóticos (Denarc), delegado Flávio Albuquerque. Para não chamar a atenção da polícia, criminosos procuram lugares tranquilos, onde possam levar uma vida aparentemente normal. Em casas alugadas ou imóveis próprios, adquiridos em nome de terceiros, eles fixam moradia nas áreas sem grande movimentação policial, a exemplo da zona de expansão em Aracaju e dos conjuntos habitacionais de Nossa Senhora do Socorro.
Aliado à tranquilidade e às condições de um mercado próspero, em outros Estados os criminosos são desconhecidos. ”Em seus Estados de origem esses criminosos já são conhecidos da polícia. Então, depois de ganhar a liberdade, vêm para o Nordeste montar sua organização criminosa ou a facção de uma já existente”, revelou o superintendente da Polícia Civil, delegado João Batista dos Santos Júnior. Mesmo reconhecendo que a polícia apresenta deficiências, o superintendente da PC afirma que a Segurança Pública tem se esforçado para combater e impedir que o crime organizado floresça em Sergipe.
“Criamos o Departamento de Narcóticos, que em parceria com o Departamento de Inteligência e Planejamento Policial tem dado uma nova dinâmica no combate ao tráfico e também estamos investindo no profissional”, afirmou João Batista. O crescimento das apreensões e prisões de traficantes indica que o Estado deixou de ser rota de passagem para drogas para se tornar um mercado consumidor. “Em Sergipe a situação está sob controle. Não temos áreas dominadas pelo tráfico e nem quadrilhas determinando o toque de recolher. Além disso, a polícia consegue ter acesso livre em todos os locais”.
Por ser um Estado pequeno, Sergipe tem conseguido monitorar criminosos que chegam tentando se estabelecer, ou que estão apenas de passagem. “A comunidade tem sido uma aliada importante nesse aspecto”, destacou o superintendente da PC. Em fevereiro do ano passado, um dos traficantes mais procurados do país foi preso em Aracaju. Apontado com chefe do tráfico no morro da Mangueira, no Rio de Janeiro, e integrante da cúpula do Comando Vermelho, Francisco Paulo Testas Monteiro, o “Tuchinha”, foi preso na zona de expansão da capital, onde estava morando com a esposa e uma filha. Além disso, vários traficantes com ligação com a facção criminosa de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC), foram presos quando transportavam pasta base de cocaína e crack líquido.
Joan: ligação com Beira Mar
O ex-integrante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs), Joan França Pinheiro, o “Colombiano”, 29, que foi preso na terça-feira passada, juntamente com mais seis comparsas, durante a operação “Bogotá”, realizada pelo Departamento de Narcóticos (Denarc), foi encaminhado na última sexta-feira ao Complexo Penitenciário Advogado Jacinto Filho, no bairro Santa Maria. Ele é suspeito de fazer parte da organização criminosa liderada pelo traficante Fernandinho Beira-Mar e teria montado uma base para o tráfico de cocaína em Nossa Senhora do Socorro. A companheira dele, Gilmara Aparecida Oliveira Santos, 29, também foi transferida para o Presídio Feminino (Prefem). Os outros integrantes da quadrilha permanecem recolhidos em carceragens de delegacias da capital.
Natural de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, Joan França estava em Sergipe desde abril e vinha sendo acompanhado há dois meses pelas equipes do Denarc e Departamento de Inteligência e Planejamento Policial (Dipol). O diretor do Denarc, delegado Flávio Albuquerque, informou que vai oficiar a Polícia Federal para que realize levantamentos sobre a ficha criminal do acusado no exterior. A polícia está realizando levantamentos para descobrir se ele estaria agindo sob as ordens de alguma facção criminosa da região sudeste ou se estaria montando a sua própria organização criminosa para agir na capital e Grande Aracaju.
Segundo depoimento de Joan, antes de se envolver com a guerrilha ele passou 25 dias preso, no ano 2000, em Vila Vicencio, depois de ser flagrado recebendo de um italiano, no aeroporto da cidade, uma maleta com drogas. Na época ele trabalhava como mergulhador em garimpos na fronteira entre o Brasil e a Colômbia. No ano seguinte voltou a ser capturado, desta feita em um sítio às margens do rio Goiaviaria, no distrito colombiano que leva o mesmo nome. Ele foi condenado pelos crimes de rebelião e conserto para delinquir com fins para o narcotráfico e cumpriu pena em unidades prisionais de Bogotá, Boiacá e Vila Vicencio, na Colômbia. Em seu depoimento, Joan contou que veio a Sergipe a passeio, gostou e resolveu morar e traficar drogas no Estado.
Joan foi preso juntamente com a companheira no conjunto Marcos Freire III, em Nossa Senhora do Socorro. Além deles, foram presos durante a operação Bogotá David Cesar Macedo da Lapa, 26 anos, Bruno Santos Oliveira de Lima, 29 anos, Helder Junior Rodrigues Azevedo, 20 anos, Cícero Bruno da Silva Menezes, 29 anos, e Givaldo Oliveira Santos, 23 anos. Com os acusados, a polícia apreendeu 300 gramas de cocaína e uma pistola calibre ponto 40, que seria de propriedade do Exército, um revólver calibre 38 e outro 32, um par de algemas e uma farda de passeio da Polícia Militar de Sergipe.
Texto: Ailton Sousa
Fonte: Jornal da Cidade
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