Salgado, localizado a 53 quilômetros de distância de Aracaju, é um dos municípios sergipanos com maior infestação do caramujo africano (Achatina fulica). Centenas de moluscos têm sido encontrados na vegetação rasteira da cidade. A infestação do caramujo, que se prolifera de forma muito rápida, foi denunciada pelo biólogo e professor universitário Clóvis Franco. Segundo ele, é preciso fazer um alerta às autoridades porque essa é uma preocupação nacional.
A denúncia da situação encontrada no município de Salgado foi encaminhada por ele à Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) e à Ouvidoria da Secretaria de Estado da Saúde (SES). “Como biólogo e estudioso, entendo que é meu papel fazer esse alerta, porque o risco é grande”, disse. Clóvis explicou que caramujo africano é hospedeiro intermediário de nematóides do gênero Angiostrongylus e transmite o Angiostrongylus cantonensis, que causa a angiostrongilose meningoencefálica (a meningite eosinfílica) em humanos e o Angiostrongylus costaricensis, que causa a Angiostrongilose abdominal, doenças ainda subdiagnosticadas em humanos e que podem levar a óbito.
A meningite eosinfílica tem como sintomas dor de cabeça forte e constante, rigidez na nuca e distúrbios do sistema nervoso. Ainda não há registro da doença no Brasil, mas tem grande ocorrência no sudeste asiático. “A infecção se dá pelo contato direto com o caramujo infectado ou através do consumo de vegetais contendo o muco produzido pelo molusco, sendo que as crianças são as mais atingidas”, disse o biólogo, bastante preocupado, porque em Salgado ele encontrou os caramujos em grande parte da vegetação dos trilhos do trem, local onde as crianças costumam brincar.
O caramujo africano gigante (Achatina fulica bowdich) é um animal nativo do leste e nordeste da África e, mesmo sem ser comestível, foi trazido erroneamente ao Brasil na década de 80 para ser comercializado como alternativa de preço inferior ao escargot (caramujo comestível). Introduzido em fazendas no Paraná (PR), proliferou-se pelo meio ambiente e adaptou-se perfeitamente em várias regiões brasileiras.
Reprodução rápida
De coloração escura e concha com estrias e faixas em tons de marrom claro e marrom escuro, o caramujo africano é considerado uma praga agrícola em diversos países onde foi introduzido, inclusive no Brasil, devido à sua rápida proliferação. A cada dois meses, um caramujo põe 200 ovos e após cinco meses os filhotes viram adultos e começam a se reproduzir. Quando adulto, chega a medir 15 centímetros de comprimento, oito centímetros de largura e a pesar mais de 200 gramas.
A espécie sobrevive o ano todo. No entanto, é durante o inverno que ela se reproduz mais rapidamente em terrenos baldios, plantações abandonadas, sobras de construções, pilhas de telhas e de tijolos. É uma espécie voraz, resistente à seca e ao frio e pode alimentar-se de 500 tipos de plantas.
Segundo a bióloga do Ibama Gláucia Bispo, os municípios sergipanos com maior infestação do caramujo africano são Boquim, Maruim e Salgado, mas o molusco já foi encontrado nas cidades de Aracaju, Siriri, Estância, Lagarto, Itaporanga, Capela, Neópolis, Pacatuba, Laranjeiras, Santa Luzia, Nossa Senhora da Glória, Propriá, Cedro de São João, São Cristóvão, Itabaiana, Areia Branca, Umbaúba, Barra dos Coqueiros, Rosário do Catete, São Domingos, Telha, Nossa Senhora do Socorro e Tobias Barreto.
Para tentar reduzir a infestação do molusco no Estado, o Ibama, juntamente com a Comissão Estadual de Manejo do Caramujo Africano – que agora conta com a participação da Anvisa, por conta da infestação no porto de Sergipe –, tem realizado reuniões e capacitações nos municípios.
“O trabalho tem que ser constante, porque o caramujo se reproduz muito rapidamente. Os municípios que ainda não têm a presença do molusco têm que estar desenvolvendo ações de prevenção e vigilância, porque até a simples movimentação de mudas de plantas pode trazer o caramujo”, explicou Gláucia. Hoje, a equipe estará em Propriá.
O que fazer
Para eliminar os riscos de contaminação pelo caramujo africano, deve-se recolhê-los manualmente, fazendo sempre uso de luvas ou sacos plásticos, para que não haja contato com o muco (secreção) do animal. Para matar o caramujo, deve-se queimá-lo dentro de latas ou tonéis. Em seguida, é necessário quebrar as conchas e enterrá-las com cal virgem para evitar a contaminação do solo e de lençóis d’água subterrâneos.
Outro procedimento possível é esmagar os moluscos e enterrá-los. Não se deve colocar os caramujos no lixo comum para evitar sua proliferação. A utilização de venenos também não é recomendada porque afeta o meio ambiente e não o molusco. É fundamental evitar o acúmulo de telhas, tijolos, sobras de construções ou excesso de plantas, já que podem servir como criadouros para os parasitas. “Ele é altamente resistente e tremendamente adaptável”, afirmou o biólogo Clóvis Franco.
Texto: Edjane Oliveira
Fonte: Jornal da Cidade
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