Os sem-teto residentes em um dos galpões cedidos pelo Governo do Estado estão sem água há oito dias. Enquanto aguardam implementação do projeto de moradias populares para adquirir residências dignas, 20 famílias estão convivendo em dois galpões localizados na Rua Espírito Santo, em Aracaju. Elas fazem parte do Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos (Motu). Segundo os moradores, o corte no abastecimento de um dos galpões foi ocasionado pela ausência de pagamento do boleto relativo ao consumo do local, que é responsabilidade da Secretaria de Estado da Inclusão e Desenvolvimento Social (Seides).
Segundo Edjane de Jesus, que reside no galpão sem abastecimento de água com o marido e dois filhos, o maior constrangimento ocasionado pela falta de água no local é a utilização dos banheiros. “São mais de 100 pessoas dividindo dois banheiros do outro galpão, porque não tem condições de utilizar o banheiro do nosso sem água”, relata. Segundo ela, os moradores estão buscando com baldes água para beber e cozinhar no galpão vizinho.
Outra moradora, Maurina Nobre, que divide espaço no galpão com uma filha e dois netos, conta que a situação já foi comunicada aos coordenadores do movimento. Eles buscam junto à Seides uma solução. “Já vivemos em péssimas condições, e ainda ficar sem água não é fácil”, reclama. As 20 famílias residentes no galpão da Rua Espírito Santo fazem parte do mesmo movimento das famílias que se encontram em outro galpão cedido pela Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe (Codise), localizado na Rua Amapá. Naquela área, estão alojadas 100 famílias.
De acordo com a assessoria de comunicação da Seides, as 20 famílias que vivem na Rua Espírito Santo foram transferidas para lá na intenção de diminuir a superlotação verificada no galpão da Rua Amapá. O prédio para onde foram transferidas, segundo a Secretaria, é oriundo de um contrato recente. Os boletos de água do local foram extraviados e a equipe da Secretaria pediu segunda via para realizar o pagamento, o que teria ocasionado o corte no abastecimento. Ainda segundo a assessoria de comunicação da Seides, o pagamento das contas está sendo realizado e a água deve voltar ao galpão sem abastecimento em, no máximo, 48 horas.
Sem energia
As 100 famílias sem-teto residente no prédio da Rua Amapá na última semana viveram problema parecido como o relatado pelos moradores da Rua Espírito Santo. Eles tiveram o fornecimento de energia do galpão cortado por ausência de pagamento.
“Percebemos um certo desleixo com a comunidade. Claro que não podemos culpar a secretaria inteira, mas tem alguém desatento nesse sentido”, diz Silvaney de Jesus, que vive com a esposa e um filho no galpão da Rua Amapá e é um dos coordenadores da comunidade. O fornecimento foi restabelecido rapidamente, segundo Silvaney, levou em média cinco horas para a situação estar resolvida, mas o ocorrido deixou os moradores ainda mais inseguros em relação à situação que enfrentam.
Moradia Digna
A luta por uma moradia digna dessas 120 famílias teve início no dia 1º de maio de 2008, quando elas ocuparam a construção inacabada do Hotel Brisa Mar, próximo à Orla de Atalaia em Aracaju. Obrigados a deixar o local, os sem-teto chegaram a ocupar o antigo Cartódromo de Sergipe, sendo mais uma vez expulsos da área.
As famílias foram então cadastradas em programas sociais do Governo do Estado e aguardam a construção de casas populares alojadas naqueles galpões, em moradias improvisadas. “O que nos deixa aflitos são os prazos colocados, que nunca são cumpridos. Viemos para esse lugar na esperança de sair rapidamente para as casas construídas pelo Estado, e já estamos aqui há um ano e dois meses”, lembra Silvaney de Jesus.
Segundo a Seides, no início do mês de setembro, os moradores devem assinar com a Caixa Econômica Federal (CEF) os contratos para construção das moradias populares, cuja construção deve ser iniciada no mesmo mês. “Este é o último prazo que aguardamos passivamente. Caso não seja cumprido, faremos manifestações”, alerta o coordenador.
Serão construídos dois conjuntos habitacionais para abrigar aqueles moradores – um com 256 habitações e outro com 132 – em uma área cedida no Conjunto Marcos Freire II, em Nossa Senhora do Socorro.
Texto: Marcia Pacheco
Fonte: Jornal da Cidade
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