Hoje, a promotora de Justiça Miriam Tereza Cardoso Machado pretende visitar o serviço de pediatria que está na Maternidade Hildete Falcão para verificar as reais condições, já que inúmeros problemas foram apontados e a inexistência de uma sala cirúrgica na unidade hospitalar tem provocado agravos nos pacientes encaminhados para o Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) através do Samu. “É grave. A situação é preocupante”, comentou a promotora, que deu um prazo de dez dias para que os gestores encaminhem a proposta de adequação e instalação do centro cirúrgico na Maternidade Hildete Falcão. Uma nova audiência pública foi marcada. Dessa vez para o dia 5 de outubro.
A precariedade no atendimento pediátrico prestado nos hospitais públicos em Aracaju voltou a ser tratada ontem, durante audiência pública realizada no Ministério Público do Estado de Sergipe (MPE) pela promotora Miriam Tereza Cardoso Machado. A boa notícia é que o serviço de pediatria do Hospital Santa Izabel, em Aracaju, voltou a funcionar no dia 3 deste mês.
“Uma criança que estava internada na Maternidade Hildete Falcão precisou ser levada pelo Samu para realizar um procedimento no Huse. Quando retornava para a maternidade morreu. Esse deslocamento aumenta o risco de morte, isso é uma realidade. É um problema de gestão, como disse a Vigilância Sanitária do Estado. 80% das irregularidades encontradas é de gestão.
Desassistência. É assim que as crianças e adolescentes vivem”, alertou a médica Tânia Andrade, do Conselho Regional de Medicina de Sergipe, ao comentar que não “aguenta mais tanta reunião e nenhuma solução”.
Foi o suficiente para eclodir uma controvérsia latente. Não há uma política de saúde pública, mas um discurso ideológico que sobrevive há anos. Sem leitos suficientes, problemas de gestão e ausência de algumas especialidades médicas, a exemplo de cirurgiões pediátricos para atender crianças e adolescentes de Sergipe, a saúde sergipana está progressivamente virando um caos.
“Vinte anos de pediatria e eu nunca vi criança ser prioridade. Nunca houve leitos suficientes para abrigar crianças com dignidade”, desabafou a pediatra Gloria Tereza Lopes, do Sindimed.
Outro problema da Hildete Falcão é o perigo eminente de infecção, já que os leitos na pediatria estão muito próximos, distante 70cm a 80cm, sendo que o espaçamento correto é de um metro, contrariando o que determina a Legislação Sanitária, que recomenda um metro de distância.
“Infecção. Esse é o perigo de leitos tão próximos”, disse Tânia Andrade, ao informar que os médicos não querem trabalhar nos hospitais públicos porque não há condição nenhuma de trabalho.
“O médico não quer trabalhar por conta dessas irregularidades, não tem condições de trabalho. Não é por causa de dinheiro não, é por causa disso”, revelou a médica. Segundo a promotora de Justiça Miriam Teresa, uma nova inspeção na Hildete Falcão será realizada em 30 dias.
O alerta do Conselho Regional de Medicina quanto ao risco de infecção por conta da falta de espaçamento correto levantou outra questão. “É mais fácil morrer porque falta leito ou por que os leitos nas pediatrias estão muito próximos?”, perguntou o médico Gilberto Santos, quando veio à tona a inadequação do espaço físico e a diminuição do número de leitos com o espaçamento correto.
Texto: Andréa Vaz
Fonte: Jornal da Cidade
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