Fernando Collor manda Pedro Simon engolir as palavras. Assista aqui
4/8/2009
A discussão foi motivada por posições divergentes em relação a José Sarney. Fernando Collor (PTB-AL) ameaçou fazer revelações sobre o senador do PMDB gaúcho.
Volta aos trabalhos é marcada por bate-boca no Senado
O presidente do Conselho de Ética anunciará na próxima quarta-feira (5), se aceitará os 11 pedidos de investigação contra José Sarney. Aliados saem em defesa do presidente do Senado.
Em Cima da Hora - Globo News
Crise no Senado: Simon pede a renúncia de Sarney e enfrenta reação de Collor e Renan
Senado recomeça com tenso debate. Agora é a vez do Conselho de Ética
Se o recesso não reduziu o debate sobre a crise no Senado, a reabertura logo no seu primeiro dia mostrou que ela está longe de ser superada. O senador José Sarney já havia negado a hipótese de renunciar e presidiu ontem por pouco tempo a sessão, enquanto em Plenário, o debate dominou o tempo todo. Flávio Arns e Pedro Simon (este em longa intervenção) voltaram a falar sobre o afastamento de Sarney, enquanto Renan Calheiros e a base aliada defenderam a sua permanência. Foi uma sessão muito agitada com troca de críticas, o reaparecimento do clima de tensão e um áspero debate entre Simon e Collor no qual o ex-presidente tentou, num desempenho surpreendente, constranger o adversário.
A crise provocada pela série de denúncias envolvendo o presidente do Senado, José Sarney, fez do primeiro dia de trabalho após o recesso um desfile de ataques, críticas e acusações. Ao criticar o senador e líder da bancada do PMDB, Renan Calheiros, Pedro Simon abriu a discussão e fez referência a uma reunião que Renan teria tido com Collor, na China, para a formação de um novo partido, antes da campanha à Presidência da República vencida em 1989 pelo senador alagoano.
Na sua intervenção, Pedro Simon disse ao líder do PMDB que ele era uma figura controvertida. "Foi lá na China e fez um acordo com o Collor. Na véspera do Collor ser cassado, Vossa Excelência largou o Collor. E lá pelas tantas apareceu de ministro do Fernando Henrique. E lá pelas tantas largou o Fernando Henrique. E agora é o homem de confiança absoluta do Lula", disse Simon.
Collor X Simon
A partir da referência de Simon, lembrando encontro com Collor no Rio Grande, quando foi convidado para seu vice em 1989, o ex-presidente e atual senador ingressou no plenário, mostrando muita irritação e reagindo com veemência. Pediu a palavra e foi duro: “Essas são palavras que eu não aceito. Quero que o senhor as engula e as digira como julgar conveniente”. E pediu para que não pronunciasse mais seu nome. Mais tarde Fernando Collor fez uma intervenção, mais longa, lembrando as pressões sofridas quando esteve no governo. Após a intervenção do ex-presidente, Simon continuou seu discurso, sendo aparteado por vários senadores que logo saíram em sua defesa. Entre eles Jarbas Vasconcelos, Cristovam Buarque, Renato Casagrande, Flavio Arns e Eduardo Suplicy.
Jarbas Vasconcelos foi o primeiro: "Vossa Excelência vai à tribuna falar em paz e é agredido. Não vi manifestação da presidência desta Casa para mandar retirar das notas taquigráficas um senador mandar o outro engolir e digerir da maneira que achar conveniente as suas palavras. Esse é o retrato do Senado que encontramos hoje", reagiu Jarbas.
O senador Álvaro Dias também entrou no debate dando apoio a Simon e o líder tucano, Arthur Virgílio, afirmou que faz coro com Simon para que Sarney deixe a presidência da Casa. Cristovam Buarque foi mais enfático dizendo que o povo não quer que Simon "engula" nada, numa referência à frase de Collor para o peemedebista. "Não engula nada, senador Simon. O povo brasileiro precisa que o senhor externe as coisas nesse momento", disse ele.
Na discussão com Simon, Collor disse que o peemedebista “deveria engolir e digerir como achar conveniente" qualquer palavra em que for mencioná-lo. Na hora Simon disse que “não "engole" palavras, mas diz o que tem que ser dito no momento em que desejar dizê-las.”
Sarney atento
O presidente do Senado, José Sarney, admitiu que a defesa de sua permanência no cargo realizada, em plenário, pelo líder do PMDB, Renan Calheiros, e pelo senador Fernando Collor ajuda a mudar o cenário da crise. Sarney assistiu ao debate dos aliados contra o senador Pedro Simon pela televisão. O principal defensor de Sarney no plenário do Senado, Renan duelou boa parte da sessão com Simon. Em cada momento que Simon mencionava os processos que enfrentou no Conselho de Ética em 2007, Renan pedia que o peemedebista não relembrasse episódios que causaram transtornos à sua vida pessoal.
"Respeite os meus valores pessoais. Eu já sofri tanto com isso. Já respondi a tudo, não há nada contra mim", disse Renan. Chamou atenção também que a presença do PT foi muito pequena no plenário. Eduardo Suplicy e Flávio Arns, especialmente este, manifestaram posições que não são exatamente as desejadas pelo governo. Agora será a vez do Conselho de Ética, onde o governo parece preparado, na medida em que o presidente Paulo Duque teria sido escolhido com todo cuidado.
Conselho hoje
O Conselho de Ética se reúne hoje para discutir as 11 denúncias contra o Presidente Sarney. O recesso parlamentar não esvaziou a crise e a situação de Sarney é considerada delicada. A base aliada considera que a semana será decisiva. DEM, PR e PDT reúnem hoje suas bancadas para discutir se apresentam representações contra o peemedebista no Conselho de Ética, como fizeram PSDB e PSOL.
Segundo o mapeamento realizado por aliados, o peemedebista ainda contabilizaria o apoio de 45 senadores. No início do mês, os aliados diziam que Sarney ainda contava com o aval de 54 dos 81 senadores da Casa. Mas o presidente Paulo Duque pode ter um papel importante na aceitação das denúncias.
São cinco representações por quebra de decoro parlamentar, três apresentadas pelo PSDB, duas pelo PSOL, e seis denúncias, quatro pelo senador Arthur Virgílio e outras duas através do senador Cristovam Buarque.