Ainda rende a cavalar deselegância de Edvaldo Nogueira ao mandar retirar da Assembleia faixas em homenagem a Nilson Lima e ao presidente nacional do PSS, ex-senador Roberto Freire, na quinta-feira da semana passada (vide texto anterior).
Contudo, um ponto ainda não estava devidamente esclarecido. O que pretendia o governador Marcelo Déda ao se dirigir ao restaurante onde ocorria a comemoração da cúpula do PPS?
A praxe é a seguinte: quando o governador se desloca a qualquer local público, integrantes da segurança pessoal são designados para checar o ambiente e suas cercanias. Marcelo Déda não apenas sabia quem estava no restaurante, como já havia sido informado por Edvaldo Nogueira, com quem assistiu a um concerto no TTB, do episódio com as faixas.
O governador chegou ao restaurante e imediatamente foi à mesa onde ocorria a refrega do PPS. Em tom irônico, falando alto e visivelmente nervoso, Marcelo Déda cumprimentou Roberto Freire e disse: “Você conquistou um grande quadro” –referia-se a Nilson Lima. Logo depois, juntou-se ao chefe o “secretário” Edvaldo Nogueira.
Os lisonjeadores do governador lotados na imprensa não disseram, mas havia várias mesas vazias no restaurante. Marcelo Déda, porém, preferiu sentar-se exatamente à mesa ao lado. Cochichos e mais cochichos com o prefeito comunista eram entremeados por gargalhadas homéricas e algumas palavras ditas em alto volume –de ambos, diga-se.
Para surpresa dos presentes, após uns goles a mais, Marcelo Déda levantou-se, pegou Nilson Lima pelo braço e dirigiu-se a um canto do restaurante para uma conversa reservada com o ex-auxiliar. Foram 15 longos minutos, no primeiro reencontro deles depois da demissão “por justa causa” de Nilson Lima do cargo de secretário (Fazenda).
Ao retornar à mesa, Nilson Lima estava “da cor de papel”, conforme me narrou um dos presentes. A anterior euforia foi substituída por um ar sisudo. Dali adiante, o ex-secretário permaneceu calado até o momento da despedida. A quem o questionou sobre o teor da conversa, disse: “Nada, nada de importante”.
O clima no restaurante já não estava bom. Na chegada do prefeito, uma rápida discussão acirrou os ânimos. Roberto Freire definiu Edvaldo Nogueira como “esbirro da ditadura” –para quem não sabe, “esbirro da ditadura” significa “lambe botas de general”, “aquele que faz o trabalho sujo” ou simplesmente o “puxa-saco”. Que retrucou: “Tirei e mando tirar quantas vezes botem” (referência às polêmicas faixas).
Com o retorno de Nilson Lima à mesa, o clima ficou insustentável. Por decisão geral, as comemorações do PPS foram encurtadas. Meia hora depois, estavam todos do lado de fora. Antes da saída, contudo, um novo momento de tensão. Completamente “alto”, Marcelo Déda se dirigiu em tom autoritário e desafiador ao ex-prefeito de Socorro, José Franco: “Você tome cuidado, você tome cuidado!”.
Aglomerados à porta do restaurante, os próceres do PPS estavam atordoados. Roberto Freire falava de “pressão típica da ditadura”, o criminalista Emanuel Cacho classificava os atos do governador como típicos de “assédio moral” e o arredio José Franco queria retornar ao restaurante para “tomar satisfação”. No que foi dissuadido pelo sempre pacífico líder comunista Wellington Mangueira.
A questão é: o governador Marcelo Déda, acompanhado do prefeito mauricinho, queria deliberadamente “melar” a festa do PPS. Isso está mais do que claro. Mas, que palavras ele teria dito a Nilson Lima para provocar reação tão inesperada no antigo amigo?
Marcelo Déda pauta a atuação política pela pecha de “autoritário”, “prepotente” e “arrogante”. O próprio Nilson Lima disse ao Cinform desta semana ter testemunhado o governador “estimular a desavença entre os secretários”. Na mesma reportagem, disse ainda: “(Marcelo) Déda não tem visão da construção política. Política de verdade não se faz sozinho”.
Conhecendo como poucos o compadre-governador, Nilson Lima deve ter um milhão de razões para ter ficado “da cor de papel” ao conversar com o ex-chefe. A campanha que se avizinha promete ser quente. Muito quente...
Curiosa Renúncia - A temida jornalista Thaïs Bezerra presenciou todos os fatos narrados acima. Ela estava no TTB –tirou até foto com o “chefe” Marcelo Déda, publicada no caderno dominical do Jornal da Cidade– e seguiu com o séquito governamental ao restaurante. Sentou-se com discreta distância, mas os olhos e ouvidos treinados na arte da fofoca e da futrica estavam bem atentos. Curiosamente, a moça danada, apesar do burlesco babafá, fez de conta que estava em Paris, bem longe da miúda contenda. Seus escritos, sempre tão recheados de bombásticas "notícias", simplesmente ignoraram o imbróglio. Qual terá sido a razão? Pois é, "perderam" seus pacientes leitores...
David Leite - Quarta-feira, 29 de Julho de 2009 – 17h15
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