Gravação da PF agravam situação, segundo o senador, que se reúne com Simon para avaliar
O recesso não aliviou a pressão envolvendo o senador José Sarney e, diante de novos fatos (veja tema paralelo), o senador Cristovam Buarque anunciou que vai propor a realização de um "plebiscito" questionando os senadores sobre quem apoia ou não a permanência de José Sarney na presidência do Senado.
Para o senador Cristovam Buarque, Sarney não teria mais o apoio da maioria do Senado diante da sucessão de denúncias. Acha que a sua situação não se enquadra mais em afastamento, mas em cassação. "Eu vou defender que os senadores se manifestem pessoalmente em um plebiscito dentro do Senado e votem sobre a permanência do presidente Sarney. Eu não acredito que ele tenha mais de 41 votos hoje no Senado", anunciou ele.
Cristovam revela ainda que vai propor ao PDT, seu Partido, que apresente uma representação contra Sarney diante da divulgação de diálogos gravados pela Polícia Federal que mostrariam que ele estaria envolvido em nomeações por atos secretos. E observa também que o presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque, do grupo de Sarney, apesar de ter a prerrogativa de arquivar as denúncias por causa do cargo, não terá legitimidade para engavetar as acusações sem discutir.
"Não vamos permitir que essa situação não seja discutida com a rigidez que ela merece. Se o senador Paulo Duque arquivar as representações, será uma bofetada na cara do povo e isso nós não vamos aceitar. Vejo com preocupação esse crescente descrédito do Senado que pouco a pouco vai se desfazendo. É como se o Senado estivesse sendo derretido e nós não conseguíssemos resolver o problema. Nós não vamos suportar mais um ano e meio do mandato do presidente Sarney. A crise é tão violenta e o Senado está tão pequeninho que não vamos conseguir recuperar a credibilidade com a opinião pública em 20 ou 30 anos", assinalou.
Ele criticou ainda a resistência de Sarney em deixar o cargo, lamentando que ele se considere mais importante do que o próprio Senado. Lembrou, a propósito que “ quando o senador Pedro Simon deu um passo adiante e disse que não era mais questão de licença, como eu pedi meses atrás, mas, sim, questão de renúncia à Presidência, eu disse: a continuar assim, já não vai ser mais de renúncia, vai ser de cassação. Está muito próximo de uma representação pela cassação, observou ainda Cristovam Buarque.
Outro senador, o tucano Álvaro Dias também entrou no debate: "Minha proposta é que todos nós senadores sejamos convocados a julgar. O conselho de Ética é apenas uma etapa do processo. A quebra de decoro tem que ser julgada pelo plenário. O Conselho é uma instância primeira", disse o tucano.
Segundo ele, com a denúncia de que Sarney se comprometeu a falar com Agaciel para garantir a nomeação do namorado de sua neta, o presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque, não será capaz de arquivar o caso.
"É a prova material dos fatos. Este fato por si só torna irreversível o acolhimento por parte do Conselho de Ética contra o presidente do Senado. Por mais que este Conselho tenha sido constituído para colocar panos quentes na crise, diante dos fatos repetitivos e comprovados é impossível aceitar outra hipótese,” disse o senador oposicionista.
Afinados
O senador Cristovam Buarque concordou com a posição de Álvaro Dias, afirmando que o presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque não pode mais negar as representações contra Sarney diante das novas provas. Por isso pedirá ao presidente a ele que convoque uma reunião de emergência entre os conselheiros para discutir a revelação feita pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, de que o presidente do Senado, José Sarney , intercedeu junto ao ex-diretor da Casa Agaciel Maia pela contratação do namorado da sua neta, Maria Beatriz Sarney. O namorado dela, Henrique Dias Bernardes, foi contratado por ato secreto. Antes de mais nada, Cristovam Buarque vai reunir-se com o senador Pedro Simon, hoje, para fazer uma avaliação do quadro e as medidas a propor.
Os novos elementos
Foi uma reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" publicando uma conversa entre Fernando Sarney e sua filha, Maria Beatriz (neta de Sarney), sobre um cargo que estaria vago na área administrativa do Senado que provocou a nova repercussão política no Senado. Sarney, que também foi gravado pela PF, se comprometeu a falar com Agaciel Maia sobre o caso e, oito dias depois do diálogo, a nomeação ocorreu. As gravações foram feitas durante a Operação Boi Barrica, que investigou denúncias de fraudes no Maranhão no setor energético.
Mais Conselho de Ética
Diante dos fatos novos, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio retomou a ideia de apresentar a quarta denúncia contra o presidente da Casa, José Sarney ao Conselho de Ética, Para ele a denúncia por quebra de decoro parlamentar pode ser realizada agora, pois na sua opinião teria ficou comprovado o envolvimento de Sarney. "Anteriormente, não havia vínculo com o presidente. Agora, que foi comprovada a participação de Sarney, a coisa muda de figura", disse.
Carlos Fehlberg