O município de Aracaju, com cerca de 600 mil habitantes, já registrou este ano mais de 400 casos de esquistossomose, uma doença de áreas pobres, sem infraestrutura de água e esgoto, transmitida pelo germe Schistosoma mansoni. Na quinta-feira passada, (16), uma senhora de 53 anos morreu por conta da doença, passando para seis o número de óbitos registrados na capital sergipana. Todos os casos foram confirmados por exame laboratorial.
Hoje, uma equipe sob coordenação de José Chagas Sobrinho, supervisor de endemias do Centro de Zoonose, irá visitar as comunidades da avenida Amarela, no bairro Santa Maria, mais afetado até o momento. Lá serão entregues até 200 kits para coleta de exame de fezes. Os casos positivados serão tratados com medicamento.
Em Aracaju os registros da doença conhecida como barriga d’água estão concentrados em vários bairros, todos sem nenhuma infraestrutura, a exemplo dos bairros Santa Maria, Coqueiral, Japãozinho, toda a zona de expansão, bairro Industrial, entre outros. Sem saneamento básico, a Zona de Expansão já registrou mais de 20 casos da doença.
“Mas o número de pessoas com esquistossomose na região pode ser muito maior, já que a transmissão dos dados para o Zoonozes depende das unidades de saúde”, disse o supervisor de Endemias do Centro de Zoonose, José Chagas Sobrinho. Segundo ele, é na zona Norte da cidade que o número de pessoas contaminadas pelo parasita Schistosoma, responsável pela doença, é maior. Já são quase 200 pessoas contaminadas.
Em toda a zona de expansão é visível a presença de caramujos, que podem ou não transmitir a doença, nas lagoas e portas das casas. Hoje, Sobrinho garante que dará início ao trabalho de combate contra o caramujo. “Iremos primeiro na avenida Amarela, que fica no Santa Maria, e depois no Robalo. Nesses dois lugares há focos, segundo denúncia”, explicou ele ao informar que até o final do ano, todos os bairros serão visitados pelo equipe da Zoonose.
Situação crítica
Moradores do Robalo e de toda a Zona de Expansão de Aracaju estão convivendo com focos da doença. De acordo com a diretora do Conselho das Associações de Bairros do Robalo e Zona de Expansão de Aracaju, Karina Drumond, por causa das chuvas e por conta do lençol freático da região ser alto, lagoas são formadas nas portas e quintais das casas.
“E, como a água não tem para onde escorrer, as lagoas demoram a secar, o que propicia o surgimento dos caramujos. É nessa situação que os moradores do Robalo e toda Zona de Expansão de Aracaju estão vivendo: ilhados e com risco de pegar esquistossomose”, disse ela. A porta da residência de Adriana Conceição do Sacramento, que mora no local há 27 anos, está infestada de caramujos.
Revoltada com o descaso do poder público, ela questionou a falta de atuação dos órgãos competentes. “A gente não tem como saber por que ninguém vem aqui para fazer um levantamento. A população daqui está à mercê desses parasitas”, disse Karina Drumond.
Em contrapartida, Sobrinho afirma que dará início ao trabalho hoje e até o final do ano todos os bairros da cidade já terão sido visitados.
A doença
O homem é o principal hospedeiro do parasita, embora as crianças sejam as mais atingidas, pois elas são mais vulneráveis por brincarem em locais úmidos sem saber que lá podem estar estes parasitas a espera de um hospedeiro. A doença é contraída em água doce, onde existem caramujos, que são hospedeiros intermediários do parasita. Na água, os caramujos (lesmas e caracóis) hospedam os ovos, que se desenvolvem e eclodem, eliminando larvas denominadas miracídios.
Entre quatro e seis semanas, as larvas abandonam o caramujo na forma de cercárias, e contaminam as pessoas, através da pele, quando elas vão ao rio lavar roupa, pratos, pescar ou tomar banho. Segundo a coordenadora do Centro de Controle Zoonese, Gina Blinofi, o horário mais crítico de contaminação é entre 10 e 15 horas, quando há a liberação da cercária pelo caramujo.
Blinofi destaca ainda que o programa de controle também desenvolve ações de educação, explicando que a melhor forma de prevenir a doença é evitar mananciais de água doce, onde haja caramujos, beber água tratada e defecar em vasos sanitários ou locais onde haja fossa.
No entanto, o combate a esta doença passa necessariamente por medidas de saneamento básico. Águas e sistemas de esgoto devem ter sempre as águas tratadas. Os caramujos, hospedeiros intermediários do parasita, devem ser eliminados. Ao entrar em águas paradas ou sujas, deve haver uma proteção nos pés com botas de borracha.
Sintomas
Os sintomas mais comuns da esquistossomose são: diarréia, febres, cólicas, dores de cabeça, náuseas, tonturas, sonolência, emagrecimento, endurecimento e o aumento de volume do fígado e hemorragias que causam vômitos e fezes escurecidos. Ao surgir estes sintomas, o indivíduo precisa procurar imediatamente um atendimento médico para que todos os procedimentos necessários sejam tomados.
A esquistossomose, também conhecida como bilharzíase, é uma doença provocada por parasitas humanos, os trematódeos, do gênero Schistosoma. Existem três tipos de vermes: Schistosoma haematobium, que causa a esquistossomose vesical, existente na África, Austrália, Ásia e Sul da Europa; o Schistosoma japonicum (provoca a doença de katayama) encontrado na China, Japão, Filipinas e Formosa e, ainda, o Schistosoma Mmnsoni, responsável pela causa da esquistossomose intestinal; este último é encontrado na América Central, Índia, Antilhas e Brasil.
Texto: Andréa Vaz
Fonte: Jornal da Cidade
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