Uma área extremamente poluída e um comércio em plena expansão. É assim que se define hoje o bairro 13 de Julho, a antiga “Praia Formosa”. O manguezal frondoso passa a falsa impressão de que ali existe vida, quando na verdade é alimentado por excrementos jogados pelos canais de residências e lojas de vários bairros de Aracaju. O que denuncia esse alto índice de poluição é o mau cheiro exalado no local e a inexistência de crustáceos e peixes na região.
Nas análises de balneabilidade realizadas pela Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) na praia do Bico do Pato, localizada na 13, constata-se isso. Sempre são encontrados índices superiores a 4.000 coliformes fecais termotolerantes por 100 mililitros de água, bem acima do limite máximo aceitável para balneabilidade, que é de 1.000 coliformes para cada 100ml de água.
Segundo o diretor-presidente da Adema, Genival Nunes, muito da poluição na área se deve ao
fato de que trazem os rios Poxim e Sergipe. “Sendo o Poxim um rio que corta a cidade, inclusive onde não tem rede de esgoto, ele recebe muito esgotamento sanitário dos locais por onde passa e acaba trazendo para a área da 13 de Julho”, explicou. O freio hidráulico natural que existe ali provocado pela entrada da maré acaba retendo parte da poluição naquele local. “Então é natural que as partículas aromáticas que causam aquele odor ali se caracterizem bem como poluição orgânica”, disse Genival Nunes.
Ao longo das décadas, o bosque de manguezal da 13 de Julho foi tomando cada vez mais espaço. De acordo com o diretor da Adema, alguns fatores contribuíram para esse reflorestamento. Um deles é que é que o mangue tenha crescido justamente alimentado pela poluição depositada ali, o que, de acordo com Genival, ainda precisa ser comprovado cientificamente. “Se a matéria orgânica depositada encontra um pH natural, uma salinidade padrão, os microorganismos começam a oxidá-la”.
Essa decomposição, além de resultar no odor característico da região, acaba produzindo nitrato e fosfato, nutrientes básicos que em abundância são alimentos inorgânicos para a vegetação. “O esgoto acaba alimentando o mangue. Ou seja, aquilo ali [o crescimento do bosque] pode não ser uma redução dos poluentes. Pelo contrário. Muito provavelmente, o desenvolvimento de bosque naquele local se dá exatamente por esse aporte de nutrientes orgânicos e inorgânicos naquela região”, esclareceu o diretor da Adema. Para o biólogo Clóvis Franco, professor da Universidade Federal de Sergipe, o grande problema na região da 13 de Julho são os esgotos e o lixo que são jogados ali. “Tudo é jogado no mangue da 13. O esgoto é despejado diretamente no meio ambiente, sem que antes os dejetos sejam tratados”, declarou.
Sem mau-cheiro
Antigo morador do bairro 13 de Julho, o fotógrafo Lineu Lins chegou ao local em 1956, quando seu pai alugou uma casa para a família veranear. Ele lembra que não existia mangue no local. “Nessa época não tinha mangue nenhum, era uma área limpa, de areia, que servia para pesca de massunim. Era um lugar belíssimo”, revelou. Lineu conta que o mangue na 13 surgiu depois que o manguezal do Jardins começou a ser derrubado. “Na hora que acabaram com todo esse manguezal, para fazer o Jardins, as sementes desceram e começaram a germinar a vegetação na 13 de Julho, alimentado pelos esgotos despejados ali. Até então, a 13 de Julho não tinha mau cheiro nenhum”, afirmou. Em seu rico acervo fotográfico – composto por mais de 600 mil fotos – ele guarda imagens dessa evolução da capital. Fotos que guardam uma antiga 13 de Julho sem mangue, sem poluição, onde ainda era possível se banhar ou até mesmo pescar, viva somente na memória de quem viveu esses tempos.
No entanto, segundo a diretora de Gestão Ambiental da Deso, Lílian Wanderley, nesses últimos 20 anos, especialmente nos 15 mais recentes, ao mesmo tempo em que a carga poluidora aumentou com a ocupação do bairro Jardins e o adensamento das construções na parte sem esgotos, em outros bairros o crescimento do manguezal depurou parte desses esgotos. “E o bosque que vem se ampliando embelezou a paisagem e expandiu os ninhais de garças e outras aves que lá habitam de dia e de noite”, disse.
Ela explicou que outra função desse manguezal, que tem crescido contornando a Coroa do Meio, na altura do Shopping Riomar, e avançado rio adentro, é a estabilização da embocadura do rio Sergipe, que sempre variou, avançando mar adentro ou recuando. “O crescimento do mangue na saída do canal da Biblioteca e do riacho Tramandaí também fortalecerá a 13 de Julho e a Coroa do Meio contra ondas e correntes em regimes normais e por ocasião das altas marés, que no passado fizeram desabar aterros e muros”, ressaltou.
Segundo informações da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso), atualmente 45% da cidade de Aracaju possui rede de esgoto funcionando, inclusive o bairro 13 de Julho. Tudo que é coletado nas residências do local é levado para a estação de tratamento de Aracaju, localizada no município de Nossa Senhora do Socorro. No entanto, ainda existem ligações clandestinas feitas diretamente na rede pluvial, o que contribui para a poluição do rio Sergipe e do Poxim, bem como o mangue que margeia o bairro, porque desembocam na 13 de Julho. “O que é jogado no rio Sergipe e Poxim em frente à 13 não é só o que vem do bairro. São também ligações de outros bairros que caem nesses canais”, explicou o assessor de Comunicação da Deso, Fernando Fontes.
De acordo com Fontes, o ideal seria que nos locais onde ainda não há rede de esgoto fossem utilizadas soluções individualizadas, com os dejetos sanitários sendo lançados nas fossas. Mas mesmo assim, ao caírem nos canais eles acabam provocando odor, que tanto incomoda quem mora ou trafega pela região. Até o final do próximo ano a Deso pretende ampliar a cobertura da rede de esgoto sanitário na capital e Grande Aracaju. A informação é que ela já está sendo construída, principalmente em locais próximos aos canais, como Augusto Franco, além das cidades de Socorro e Barra dos Coqueiros. “Sabemos que isso significa qualidade de vida e também diminuição da poluição e incidência de doenças na população”, ressaltou Fontes.
De acordo com Genival Nunes, é atribuição da Adema fiscalizar e licenciar todos os processos dos prédios. “Nos locais onde passa rede de esgoto os dejetos têm que ser jogados lá. O que não significa dizer que não possa haver alguma ligação clandestina. Mas se não tem esgotamento passando no local, tem que se fazer algum tratamento de esgoto”, disse. Ele ressaltou que a instituição tem buscado fazer um licenciamento de qualidade e um monitoramento constante de como isso vem sendo operado, para evitar uma degradação maior do ambiente. “Quanto maior a coleta de esgoto menor será a contribuição nos canais que acabam sendo tributários do Poxim e Sergipe e que acabam ancorando naquele ponto”.
Menos poluição
A boa notícia dada pela diretora de Gestão Ambiental da Deso, Lílian Wanderley, é que a 13 de Julho navega por um caminho de mudanças em seus padrões de qualidade hídrica. Ela conta que em breve os esgotos que despejam no canal da biblioteca, no riacho Tramandaí, ambos na 13 de Julho e no rio Poxim, próximos dessa praia, serão coletados pela rede de esgotos que se encontra projetada, em fase de implantação e já implantadas em alguns trechos.
Também haverá a ampliação das estações de tratamento e a recuperação de parte da rede existente. Os bairros Jardins, Ponto Novo, Salgado Filho, São Conrado, Farolândia, incluindo o conjunto Augusto Franco, parte da Coroa do Meio e da Atalaia ainda continuam sendo contribuintes de peso na carga poluidora que tem aportado às águas do rio Sergipe, nessa parte da cidade de Aracaju, seja diretamente ou através do rio Poxim, do canal da biblioteca e do riacho Tramandaí.
“Com a instalação dessa rede, que coletará diretamente nos domicílios e conduzirá os esgotos para as estações de tratamento situadas no Orlando Dantas, Inácio Barbosa e no Marcos Freire, principalmente, haverá uma elevação da qualidade da água nesse estuário, o risco de contaminação por contato com a água do Sergipe será bastante reduzido e possivelmente voltará à velha balneabilidade e à prática de esportes náuticos, como a prática de esquiar, que há 20 anos era bem comum”, adianta Lílian Wanderley.
Ação militar deu origem ao nome do bairro
Treze de julho de 1924. A data histórica marca a adesão dos militares de Sergipe aos de São Paulo, na revolução que teve como objetivo por fim à oligarquia dos Partidos Republicanos Paulista e Mineiro, que se revezavam no comando do país. A Revolução Paulista de 24 havia estourado no dia 5 de julho, sob a liderança do general Isidoro Dias Lopes, major Miguel Costa, João Cabanas e Joaquim Távora, contra o então presidente da República, Artur Bernardes. Em Sergipe, o levante tenentista teve como lideranças os tenentes Augusto Maynard Gomes, João Soarino, Manoel Messias de Mendonça e o capitão Eurípedes de Lima, que sublevaram o quartel do 28º Batalhão de Caçadores, em Aracaju. Os revoltosos defendiam o voto secreto.
A revolta marca o início do movimento tenentista no Estado de Sergipe. O Palácio do Governo e o quartel da Polícia Militar foram atacados, a estação ferroviária e o Telégrafo Nacional foram ocupados. Os presos foram recolhidos ao quartel do 28 BC, inclusive o presidente do Estado à época, Maurício Graccho Cardoso, acompanhado por alguns auxiliares.
Uma junta governativa foi formada e o clima de guerra passou a dominar o Estado. Temendo ser atacado por tropas da Bahia vindas pelo mar, uma trincheira foi montada na barra do rio Sergipe, na Praia Formosa – hoje 13 de Julho – com canhões e sacos de areia, buscando defender Sergipe da força inimiga que se aproximava. Essa resistência se espalhou também para outras regiões do Estado, como Carmópolis, São Cristóvão e Itaporanga D’Ajuda.
Em contrapartida, o governo federal designou o general Marçal Nonato de Farias como responsável por restabelecer a ordem em terras sergipanas, levando Graccho Cardoso de volta ao cargo de governador de Sergipe. Militares de várias unidades do país se juntaram para conseguir o intento.
Uma grande operação foi montada para que a ordem voltasse a imperar no Estado. Prevendo as dificuldades que teriam de desembarcar na praia Formosa, os navios partiram para as praias de Estância, desembarcando, em 24 de julho, em Santa Luzia do Itanhy, onde, no dia seguinte, o general Marçal Nonato declarava nulos todos os atos praticados pela junta governativa. Depois da resistência dos revoltosos em alguns municípios, em 3 de agosto alguns foram presos e outros se entregaram, sendo levados ao quartel do 28 BC. Já Augusto Maynard foi preso e conduzido a prisão militar, na ilha de Trindade. Ao todo, mais de 500 pessoas foram processadas criminalmente.
Mesmo com esse desfecho, os ideais do movimento tenentista alcançaram seus objetivos com a revolução de 1930 e a nomeação do capitão Augusto Maynard para interventor federal do Estado. Em homenagem ao levante tenentista, a praia Formosa passou a se chamar praia 13 de Julho em 1930, através de ato assinado pelo então intendente municipal Camilo Calazans.
A princípio, a praia Formosa era conhecida como Ilha dos Bois, uma região cortada por rios, mangues e alagados, utilizada para pastagem de gado. Passado o período da Revolução de 24, o local tem de volta sua paz. Já no final da década de 20, a 13 de Julho era ocupada por veranistas, ainda com habitações feitas em palha. As primeiras casas de alvenaria começam a surgir em 1929. Em 1935 começam a se fixar os primeiros moradores na região e a 13 deixa de ser o maior ponto de veraneio da capital, com a abertura, depois de 1937, de avenidas e a construção da ponte sobre o rio Poxim, ligando a cidade à praia de Atalaia.
Situado entre dois rios
Situado na zona sul de Aracaju, o bairro 13 de Julho está localizado no encontro dos rios Sergipe e Poxim. Nele vivem cerca de 2,5 mil famílias, o que corresponde a aproximadamente 10 mil moradores, a maioria formada por pessoas de classe média e média alta, que mora em edifícios. Os prédios de apartamentos começaram a surgir na 13 de Julho a partir da década de 80. Hoje, eles dominam boa parte do cenário local. Os edifícios luxuosos e de alto padrão conferem à 13 de Julho o status de um dos metros quadrados mais caros da capital. Com uma localização privilegiada, a antiga Praia Formosa está situada a cinco quilômetros do Centro de Aracaju, próximo de tudo: shoppings, escolas, supermercados e farmácias, entre outros.
Um comércio forte e em franco crescimento é outra característica do bairro 13 de Julho. Galerias e mais galerias se proliferam na região. O menor custo de manutenção com relação aos shoppings e o grande público consumidor formado pelos moradores do bairro são os principais atrativos para que um número crescente de comerciantes decida se instalar na 13 de Julho. “Onde tem comércio chama comércio”, resumiu o empresário Assis Menezes Júnior, ex-presidente da Associação dos Comerciantes do Bairro 13 de Julho.
Para ele, hoje, depois do Centro, o comércio deste bairro é o mais forte de Aracaju. Há dois anos e meio, quando a então associação realizou um levantamento, existiam cerca de 500 empresas no bairro. Hoje, diante do crescimento observado, Assis estima que tenham surgido algo em torno de 150 novos estabelecimentos.
E em todos os setores é possível ver a pujança do comércio local, mas o foco principal ainda está no ramo de vestuário – com confecções femininas, masculinas e calçados. No entanto, na 13 de Julho também é forte o segmento de lojas de decoração, presentes, beleza e academias. Outro destaque da parte comercial do bairro é o de gastronomia. Com restaurantes tradicionais e outros mais novos que foram instalados no local, a 13 de Julho é considerada um point para os amantes da boa comida.
Fonte: Jornal da Cidade
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