Representantes do município de Aracaju e do Estado, juntamente com o Conselho Regional de Medicina (Cremese) e Sindicato dos Médicos de Sergipe (Sindimed), estiveram reunidos em audiência pública na tarde de ontem, no Ministério Público estadual, para definir o novo desenho do atendimento pediátrico na capital. Na oportunidade, o secretário municipal de Saúde, Marcos Ramos, apresentou à promotora Alessandra Pedral a proposta do município para esse atendimento.
Com o objetivo de que ele seja feito de forma mais racional, a serviço pediátrico do Hospital Nestor Piva, na zona norte, será transferido para o Hospital Fernando Franco, no conjunto Augusto Franco, já que a zona sul não dispõe de atendimento de pediatria, e o atendimento dos pacientes da zona norte seria feito no Hospital Santa Isabel, conveniado ao município e que nos próximos 15 dias passará a funcionar com serviço de portas abertas.
Sobre a transferência, o fechamento da pediatria do Hospital Nestor Piva e o atendimento a ser feito no Hospital Santa Isabel, o secretário Marcos Ramos afirmou que não tem lógica que numa mesma área existam duas unidades atendendo com portas abertas, enquanto a zona sul não tem nenhuma unidade com esse tipo de atendimento. “Então nós transferimos para a zona sul e fica o hospital contratualizado, o Santa Isabel, com estrutura própria, com porta aberta 24 horas para atender a população da zona norte”, explicou Marcos Ramos, ressaltando que a expectativa é que isso já esteja funcionando nos próximos 15 dias, faltando apenas agora o fechamento completo da escala de pediatras.
Mas no entendimento do presidente do Sindicato dos Médicos, José Menezes, o atendimento pediátrico tem que funcionar é no serviço público. “Não podemos aceitar que a prefeitura deixe de atuar, porque o atendimento à população é uma atividade fim, e não repassar para terceiros. Ela está terceirizando o serviço de pediatria”, afirmou. Ele disse que no Hospital de Urgência, no caso de uma complicação, existe toda uma retaguarda, com 32 especialistas que estão de plantão. “E lá no Hospital Santa Isabel, se complicar, qual é a retaguarda que vamos ter ali. Vão colocar três médicos de plantão, mas vão ser para atender só urgência ou os 45 leitos da enfermaria”, foram alguns dos questionamentos feitos pelo representante dos médicos, que acrescentou que o atendimento tem que ser mantido tanto no hospital zona norte quanto no zona sul como porta de entrada da pediatria.
Superlotação
Presente também à audiência, a coordenadora de Pediatria do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), Cristiane Barreto, falou das dificuldades que a unidade tem passado com a superlotação e informou que 60% dos pacientes atendidos são demanda de baixa complexidade, ou seja, que poderiam ser atendidos nas unidades básicas, o que contribuiria para diminuir a demanda no pronto socorro do maior hospital público do Estado. “Eu acho que com a abertura dessas duas novas portas a gente consegue aliviar um pouco a superlotação do serviço pediátrico do Huse”, disse Cristiane.
Ela informou durante a audiência que hoje existem no Serviço de Pediatria do Huse 37 emergencistas infantis atendendo divididos em escalas de quatro por turno. Além deles, dois plantonistas por turno no Centro de Terapia Intensiva (CTI) Pediátrico, seis médicos horizontais que acompanham as intercorrências dos pacientes que ficam no pronto-socorro e sete médicos diaristas que acompanham o internamento das crianças na enfermaria. Já diretamente no Huse há uma sala de apoio com oito pediatras 24 horas para poder dar suporte a qualquer criança que precise de pediatra e vá direto ao hospital. “O Huse não ficou desguarnecido. Ele tem um pediatra que está lá 24 horas para dar suporte à criança que chegue no trauma e necessite de atendimento pediátrico”, garantiu a coordenadora.
Para o presidente do Sindimed, José Menezes, as deficiências no setor público e privado da pediatria é um fato consumado. “E aqui eu estou vendo que para o pessoal é como se o problema não existisse. Dá a entender que o problema é cultural, com foi citado por algumas autoridades, e não é. Nós precisamos da ajuda de todos para esclarecer quais são os nossos serviços e a estratificação de risco, com os atendimentos por grau de gravidade do paciente”.
José Menezes disse que essa discussão sobre a pediatria já se arrasta por cinco anos. “A pediatria está se exaurindo. Hoje quais são as portas abertas para que os pais possam levar seus filhos em caso de urgência? Hoje não é nem mais no Hospital de Urgência, porque é na Maternidade Hildete Falcão. Eu tenho medo que a maternidade onde hoje o serviço de Pediatria do Huse está funcionando hoje provisoriamente ele não para o hospital”, disse José Menezes, cobrando um compromisso das autoridades nesse sentido, pois a Secretaria de Estado da Saúde pediu um prazo de oito meses para que a obra do pronto socorro do Huse fosse concluída para que o Hospital Pediátrico passasse a funcionar lá. Ele acrescentou que enquanto não se der as condições de trabalho e pagar condignamente os pediatras eles não permanecerão aqui no Estado.
Jornal da Cidade