“Ele quebrou a hierarquia militar, pois deveria chamar primeiro o capitão e depois os sargentos”. A reação foi do capitão da Polícia Militar (PM), Samuel Barreto, que preside a Associação Unidas, ao se referir ao juiz da Auditoria Militar, Diógenes Barreto, que ontem pela manhã o interrogou, juntamente com os sargentos Jorge Vieira, Edgar Menezes e Alexandre Prado. Os quatro são acusados de transgressão militar por terem, no dia 16 de abril deste ano, reunido vários colegas na avenida Adélia Franco e organizado uma manifestação por melhores salários, que culminaria com uma vigília em frente ao Palácio de Despachos. Desde janeiro os militares iniciaram uma queda-de-braço com o governo do Estado e a história se desenrola sem nenhum avanço. Entre o governo e a PM está o povo, que reclama com os crescentes índices de violência. De sexta-feira até domingo, foram 14 mortes violentas no Estado.
O juiz Diógenes Barreto permitiu o acesso da imprensa à sala de audiência, mas proibiu que fizessem fotografia e filmagens. A sala estava repleta de militares que foram acompanhar o interrogatório dos colegas. O primeiro a ser ouvido, às 10h55, foi o sargento Alexandre Prado. Ele disse que não houve assembleia na avenida Adélia Franco, porque no dia anterior – 15 de abril – em reunião com o então comandante geral, coronel Alberto Magno Silvestre, líderes da associações e secretários de Estado, ficou decidido que a mesa de negociação se reuniria na Secretaria de Estado da Administração, na Vila Cristina. O acerto seria que na manhã do dia 15 os militares encontrariam os militares e suspenderiam o movimento. Segundo o sargento Alexandre Prado, o próprio coronel Magno providenciou três ônibus para conduzir os militares até a Secretaria de Administração.
O juiz Diógens Barreto quis saber também se a Associação Unidas tem personalidade jurídica. O militar titubeou e acabou respondendo que não. A pergunta ao sargento deixou o capitão Samuel Barreto surpreso. “Quero que ele pergunte a mim, que vou afirmar que a Unidas representa a categoria”, afirmou. Tanto Barreto como os sargentos que depuseram ontem disseram que estavam tranquilos, pois cumpriram o acordo acertado com o comandante da PM e demais secretários estaduais na noite do dia 15 de abril. E estranharam o fato de estarem sendo ouvidos pela Auditoria Militar, por entender que não cometeram nenhum crime.
Apesar dos problemas com a Auditoria Militar, os líderes do movimento disseram que a luta por melhores salários vai continuar. Numa assembleia ocorrida no domingo à noite, eles decidiram dar uma trégua e os militares voltaram a trabalhar, inclusive dirigindo os veículos com carteira de habilitação vencida. Está marcada para a próxima sexta-feira, a partir da 13 horas, uma nova assembleia, na Caixa Beneficente, para discutir os rumos do movimento. Eles esperam que no decorrer desta semana existam novidades positivas para a categoria.
Jornal da Cidade - Texto: Antonio Carlos Garcia