Pré-candidato à presidência petista enfrenta restrições de caciques do partido e busca apoio nas tendências organizadas da legenda
Tiago Pariz - Correio Braziliense
Apadrinhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua busca pelo comando do PT, o chefe da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, sofre resistência de dois dos principais caciques petistas. O ministro da Justiça, Tarso Genro, e o ex-ministro José Dirceu estão em lados opostos dentro do partido e gostam de enfatizar suas diferenças, mas concordam em um ponto: Dutra não tem currículo suficiente para presidir a legenda durante ano eleitoral.
Na reunião da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), que reúne a maioria dos militantes do PT, José Dirceu ficou tão isolado que não encontrou brecha para apresentar uma alternativa. Limitou-se a elogiar a decisão de levar Dutra à apreciação de outras correntes. Como tem dúvidas da força de Dutra como construtor da aliança em torno da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República, ficou alheio às negociações internas petistas.
Deputados e o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), acabaram vangloriando-se do resultado dizendo que a solução pelo chefe da BR Distribuidora é uma articulação própria sem intermediários, nem empurrada de cima para baixo pelos antigos comandantes petistas. Leia-se Dirceu.
Os organizadores da campanha pró-Dutra esperavam que a não adesão de Dirceu pudesse facilitar um entendimento com o grupo de Tarso Genro. Dutra reuniu-se com o ministro na semana passada, pediu apoio e detalhou o plano que gostaria de tocar no partido. Enfatizou a recomendação do presidente Lula para o PT priorizar a candidatura da ministra Dilma à Presidência da República, em detrimento das alianças estaduais.
Sergipano e ex-senador, Dutra chegou até a solicitar ao governador do estado, Marcelo Déda, ajuda para se aproximar do grupo de Tarso Genro. Em vão. Pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro viu-se ameaçado e preferiu ficar de fora. O ministro também está às turras com o CNB por ter identificado uma negociação para enfraquecê-lo e obrigá-lo a desfazer seu grupo, a Mensagem ao Partido. “Nós já temos uma candidatura, mas por ele (Dutra) ter nos procurado, vamos analisar o que foi proposto”, disse, em tom diplomático, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). A tendência lançou a candidatura do deputado José Eduardo Cardozo (SP) e vai mantê-la.
O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), apesar das dificuldades, mantém o tom otimista. “O Dutra pode unificar, senão todas, quase todas as correntes dos deputados que assinaram o manifesto”, disse referindo-se ao recente documento de 54 deputados em defesa da unidade do PT. Até agora, o presidente da BR Distribuidora conta com o apoio de duas tendências, a Novos Rumos, de Vaccarezza, e a PT de Luta e de Massas, do deputado Jilmar Tatto.
Receio de ficar isolado
Com medo de não construir apoio suficiente para vencer em primeiro turno, o presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, intensificou a agenda de conversas com os militantes petistas. Sem apoio do grupo do ministro da Justiça, Tarso Genro, e com a má vontade de José Dirceu, Dutra tenta se aproximar de grupos minoritários.
Dutra tem a promessa de apoio do deputado Jilmar Tatto (SP), que na última eleição pela presidência do PT teve pouco mais de 23% dos votos e disputou o segundo turno com o atual presidente, Ricardo Berzoini. Mas ele quer que a aliança reúna também o grupo do ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), que agrega pouco menos de 15% da militância petista. O problema é um racha na corrente. Chinaglia gostaria de ter candidato próprio e apoia a deputada Maria do Rosário (RS).
Do grupo, apenas o deputado Virgílio Guimarães (MG) confidenciou disposição a abrir mão de postular o cargo em nome da aliança com Dutra. Na semana passada, Dutra e Berzoini estiveram com 15 deputados dessa corrente, o Movimento PT. Segundo Magela, o presidente da BR Distribuidora teria concordado com os pontos.
A CNB, ex-campo majoritário, reúne hoje cerca de 45% dos filiados e não consegue vencer sozinha. Devem ser lançados candidatos Iriny Lopes (ES), da Articulação de Esquerda (AE), e José Eduardo Cardozo (SP). A AE lançou Valter Pomar na eleição de 2007 e teve pouco mais de 10% de votos. Cardozo chegou a 17%. (TP)