Diante das várias denúncias sobre a precariedade no atendimento pediátrico nas urgências dos hospitais particulares, a Promotoria de Defesa do Consumidor realizou, na manhã de ontem, uma audiência pública para tratar do assunto. Além de representantes dos hospitais públicos, participaram também membros da Sociedade Médica de Sergipe, Sociedade Sergipana de Pediatria e convênios de saúde. Durante a audiência, os hospitais informaram com o atendimento vem sendo prestado. Pelo que foi informado, os hospitais São Lucas, Unimed e Renascença estão com cobertura pediátrica nas urgências, este último à exceção do domingo.
Segundo a promotora Euza Missano, há problema apenas no Hospital Primavera, que embora seja um hospital de alta complexidade não vem ofertando o serviço de urgência pediátrica. “E é isso que o Ministério Público está tentando pacificar”, disse. A promotora informou que ontem manteve contato com a cooperativa dos pediatras e os diretores do hospital iriam se reunir com eles na tentativa de solucionar o problema. “Mas na verdade temos uma rede de pediatria com assistência, inclusive com UTI pediátrica, em funcionamento”.
Na audiência, foi informado que no Hospital São Lucas existem cinco leitos de observação na urgência e nove leitos de internação. Na Renascença são sete de observação e dez de internamento, sendo seis na enfermaria e quatro em apartamento. Já na Pimpolho são 12 leitos de observação e nove para internação. No Hospital Unimed são oito leitos de observação, três leitos de enfermaria para internação e tantos apartamentos quantos forem necessários. No Hospital Primavera, os leitos de observação estão sendo redimensionados, quatro apartamentos com dois leitos e dois apartamentos com um leito e cinco leitos de UTI infantil.
Diante do que foi informado, a promotora Euza Missano disse que a população que tem convênio particular de saúde deve procurar o seu plano para fazer a identificação dos hospitais que estão fazendo atendimento. No caso de falhas eventuais na escala de atendimento, o hospital terá que atender o paciente e fazer o devido encaminhamento para outra unidade. “Não é somente dizer que naquele dia está sem atendimento por eventual dificuldade na escala”, ressaltou a promotora.
Negociação
O diretor Médico do Hospital Primavera, Albérico Lira, disse que tem caminhado para solucionar por completo a questão do atendimento pediátrico nesta unidade, uma vez que já foi fechado um acordo com os pediatras intensivistas para a abertura da UTI pediátrica do Primavera. “Vamos iniciar a negociação com outro grupo de pediatras para fechar contrato para atendimento na urgência do hospital”, disse. Lira ressaltou que o que tem dificultado a negociação do hospital com os pediatras tem sido a exigência deles por dois profissionais por plantão. “Historicamente todo hospital em Sergipe funcionou com um pediatra na urgência e tem dado conta. No acordo com os pediatras intensivistas existe uma cláusula de que eles farão também a retaguarda das crianças internadas, de forma que o pediatra que estiver na urgência estará livre dessa solicitação”, acrescentou.
Mas, para a representante da Sociedade Sergipana de Pediatria e da Sociedade Médica de Sergipe (Somese), Andréa Diniz, o serviço de urgência deveria funcionar com, no mínimo, dois pediatras, porque o profissional que está na linha de frente presta atendimento ao público que está chegando e as intercorrências que ocorrem entre os pacientes que estão internados no hospital. “Nós entendemos que para que a Pediatria funcione com melhor fluxo, sem demora e com uma melhor qualidade no atendimento, deve contar com dois pediatras”.
Ela entende que essa deveria ser a realidade em todos os hospitais que prestam serviço de atendimento de urgência pediátrica. Segundo Andréa, o que tem acontecido ultimamente é que as pessoas que têm convênio têm se queixado da demora no atendimento. “As pessoas pagam plano de saúde e não estão tendo um atendimento de qualidade. E o pediatra que está no consultório fica aflito querendo dar o melhor e sem poder porque é único naquele local”, disse.
A representante da categoria ressaltou que não é verdadeira a afirmativa de que faltam pediatras em Sergipe, pois só associados à sociedade de pediatria existem 350. O que há, segundo Andréa Diniz, é a falta de uma remuneração justa e melhores condições de trabalho. “Muitos pediatras não querem se expor na linha de frente sendo o único a atender no hospital. Eu acredito que se os hospitais colocassem dois pediatras por plantão uma grande parte da pediatria se predisporia a dar plantão”, afirmou.
Texto: Edjane Oliveira
Fonte: Jornal da Cidade