Donos de bares, restaurantes e pessoas que moram próximo à praia estão apreensivos com o avanço do mar no município de Pirambu, distante 76 quilômetros de Aracaju. Em menos de dois meses a água já avançou cerca de 200 metros, segundo relatam os moradores. “Antes, a gente precisava andar muito até chegar à água. Hoje não”, disse Aline dos Santos de Oliveira, funcionária do restaurante Estação Verão. Ela contou que desde abril tem visto o mar se aproximar cada vez mais. “Quando a maré enche, vem quase até a pista”.
Na área conhecida como Boca da Barra, em alguns trechos o mar avançou tanto que as mesas dos bares estão sendo colocadas quase à beira da pista de aceso à praia. No local, as dunas não mais existem. Parte do restaurante Tubarão da Praia foi levada pela água do mar. De acordo com o proprietário do estabelecimento, Afrânio Palmeira Santos, no último domingo o mar voltou a assustar. Ele teme que mesmo com toda a proteção que fez na parte do restaurante que foi atingida pela primeira vez na metade do mês de abril as águas destruam novamente o local. “A gente fica com medo”, disse.
A parte do restaurante que fica de frente para o mar e que foi “comida” pelas águas já foi reforçada com sacos de areia e troncos de coqueiros pela segunda vez. A primeira não foi páreo para a força da natureza e simplesmente desapareceu. “Quando o mar começou a avançar, ainda no mês de abril, mesmo destruindo as duas que tinham aqui, a gente não imaginava que pudesse chegar a atingir o nosso restaurante, porque a distância ainda era grande. Mas, pra nossa surpresa, logo depois foi levado quase 1,5 metro do local”, relatou.
“Tudo isso é obra de Deus, da natureza”. É com toda essa tranquilidade e, segundo ele, sem temer o que possa acontecer, que o aposentado José dos Santos define o avanço do mar em Pirambu. Aos 74 anos, ele disse não ter medo de mais nada nesta vida, nem mesmo de perder a casa, engolida pelo mar. A residência humilde está construída vizinho ao bar que já teve parte da construção levada. “Tudo que vem de Deus é bem feito”, declarou o aposentado, que mora no local há 12 anos. Nesse período, ele disse que a água sempre se aproximou, mas sempre voltava e não causava destruição. “Agora veio cavando tudo”.
Movimento fraco
O avanço do mar tem contribuído para que o movimento de clientes nos bares e restaurantes da praia de Pirambu tenha caído nos últimos meses. A reclamação é geral, não apenas no restaurante de Afrânio. “Cliente aqui agora é raridade. Tem dias que aparece muita gente, mas não pra consumir, mas sim pra olhar o que o mar tem feito aqui na praia e o que os donos de bares têm feito para conter as águas”, contou a funcionária de um restaurante, Aline Oliveira.
Afrânio disse que no seu estabelecimento o fluxo de clientes caiu cerca de 60%. Segundo ele, alguns fatores contribuem para isso. “Além do avanço do mar, estamos no período de inverno, quando o movimento de certa forma cai mesmo, e também a praia está muito suja com tanta vegetação. Não tem cliente que queira tomar banho”, disse o comerciante. Além da vegetação, os moradores dizem que ultimamente têm aparecido muitos animais mortos, como cachorros, gatos e patos, além cobras, estas vivas.
Nesta primeira semana de junho, as marés em Sergipe devem alcançar o nível máximo de dois metros, a partir de hoje. Mas a partir do dia 21 começam a se elevar, chegando a 2,3 metros entre os dias 23 e 26.
Como resultado das chuvas que ocorreram nas últimas semanas, em algumas áreas de Pirambu é possível encontrar lagoas formadas por água empoçada. Algumas ruas do município ainda estão inundadas, principalmente próximo ao litoral. A população está apreensiva porque essas lagoas estão servindo como criadouros de mosquitos.
Texto: Edjane Oliveira
Fonte: Jornal da Cidade