A chuva chegou e escondeu um cenário deplorável registrado pelo biólogo Clóvis Franco no reservatório do rio Poxim, que abastece parte de Aracaju. O que se via no local, até o início de abril, era todo tipo de lixo, como lâmpadas fluorescentes quebradas, pneus, baterias, matéria orgânica de várias origens, animais em decomposição, restos de alimentos e uma variedade grande de plásticos. Segundo a Assessoria de Comunicação da Deso, o tratamento da água é rigoroso, impedindo que todo esse lixo contamine a água que chega às torneiras.
Segundo o biólogo, “todos os resíduos acumulados e os gerados diariamente estão agora misturados na água usada para o abastecimento da cidade. Em denúncias anteriores, alertamos para os perigos de contaminação do rio”. As fotos tiradas por ele mostram ainda o despejo de parte do esgoto do conjunto Rosa Elze, em São Cristóvão, no reservatório do rio Poxim. Clóvis explicou que o lixo e o esgoto liberam toxinas que podem afetar a saúde humana, tanto pela ingestão quanto pelo contato com a água contaminada.
“Quando você vive em contato direto com o lixo ou entulho dispostos de forma inadequada, é atingido pelos efeitos indesejáveis através da contaminação do ar, da água, do solo e dos alimentos. O lixo é um ambiente favorável ao aparecimento de alguns animais que podem ser peçonhentos, transmissores ou vetores de diversas doenças”, alertou o biólogo. Ele citou várias doenças que podem ser transmitidas pela água contaminada, a exemplo da leptospirose, hepatite, infecções na pele e nos olhos, malária e febre amarela.
Explicações
O assessor de Comunicação da Deso, Fernando Azevedo, explicou que a análise da água que entra e que sai do reservatório é feita a cada uma hora, no laboratório existente no próprio local. “A Deso trabalha com muita responsabilidade. Se os parâmetros de potabilidade não forem cumpridos, claro que a Deso não vai distribuir a água”, garantiu. O assessor lembrou ainda que a população também tem sua parcela de responsabilidade.
“Hoje não se deve jogar lixo na rua, quanto mais em um rio. Quem faz isso está praticando um crime ambiental”, criticou Fernando. Outra informação passada por ele foi quanto ao esgoto dos conjuntos habitacionais de São Cristóvão, principalmente o Rosa Elze e Eduardo Gomes, que são despejados no reservatório do Poxim. “A Deso tem um projeto para implantar o tratamento do esgoto sanitário em toda aquela região”, explicou.
Recuperação da mata ciliar
O Ministério Público do Estado de Sergipe, através da Promotoria de São Cristóvão, ajuizou uma ação civil pública em face de José de Oliveira Souza, visando à recuperação de mata ciliar do rio Poxim. A área de vegetação natural, considerada de preservação permanente, foi desmatada para a construção de um galpão de alvenaria às margens do Poxim. O rio é uma sub-bacia do rio Sergipe e nasce no povoado Cajueiro, no município de Areia Branca, localizado a 36 quilômetros de Aracaju.
Segundo o Promotor Augusto César Leite de Resende, "quaisquer intervenções em áreas de preservação permanente no meio urbano e rural com construções e obras de quaisquer naturezas para fins particulares são vedadas pelo ordenamento florestal brasileiro, pois visa-se a manutenção do fator água, flora, fauna, recursos naturais e minerais e o bem-estar social e, por esta razão, é que tal ambiente é inalienável, impostergável e indisponível".
A destruição de vegetação natural considerada de preservação permanente, nos termos do disposto no art. 2º, alínea A da Lei 4.771/65, para a construção de um galpão, caracteriza uma prática nociva ao meio ambiente, posto que ao particular, pessoa física ou jurídica, é vedado quaisquer alterações ou modificações em área de preservação permanente.
“O desmatamento das áreas de mata ciliar, principalmente no meio urbano, obriga o poluidor, independentemente de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade", ressaltou Augusto César Resende.
Texto: Janaina Cruz
Fonte: Jornal da Cidade