Até parlamentares do DEM assinaram proposta do peemedebista Jackson Barreto que permite nova reeleição. Projeto deve ser apresentado hoje
Correio Brasiliense - Izabelle Torres
A proposta que permite um terceiro mandato para o presidente Lula pode ganhar forma hoje, quando o deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) promete apresentar uma proposta de emenda constitucional que, segundo ele, conta com o apoio de 180 parlamentares, inclusive integrantes da oposição. “Já tenho as assinaturas e agora é só protocolar. É um gesto de reconhecimento ao trabalho do atual governo. Consegui o apoio de integrantes de todas as legendas. Faltará somente um acordo para fazer a matéria caminhar”, disse ontem o parlamentar.
Na lista de assinaturas de apoiadores da proposta constam pelo menos oito integrantes do DEM. Alguns deles admitiram o apoio ao projeto, mas dizem que o mérito ainda precisa ser amplamente discutido. “Devo ter assinado sim. Não vejo qualquer problema em discutir esse assunto. Até porque isso valerá para prefeitos e governadores também. Acho que o Parlamento é um lugar de debates”, comenta Fernando de Fabinho (DEM-BA). “A gente assina para que a matéria consiga tramitar. É um gesto de coleguismo. Mas na hora de votar o mérito, a tendência é votar com o partido”, analisa Betinho Rosado (DEM-RN). “Não há nada demais ajudar um colega a colocar seu projeto em discussão”, completa Jerônimo Reis (DEM-SE).
A boa vontade de integrantes do Democratas tem preocupado a liderança do partido. Por conta disso, deputados com posição mais radical contra o governo já articulam uma ofensiva para convencer os colegas oposicionistas a retirarem as assinaturas de apoio ao projeto de Barreto. “Não podemos nem começar essa discussão. Faremos um verdadeiro corpo a corpo para convencer os colegas a retirarem as assinaturas. O DEM não pode sequer cogitar isso”, conta o deputado André de Paula (PE).
O líder da legenda vai além. Ronaldo Caiado (GO), disse que quem defender a tese poderá sofrer sanções da executiva do partido. “Se a assinatura foi um ato de coleguismo não é tão grave. Até porque duvido que isso chegue a tramitar. Mas se a pessoa realmente defender a ideia, o problema será levado à direção partidária”. Na semana passada, o mineiro Vitor Penido disse que apoiar uma proposta permitindo um terceiro mandato seria um ato aplaudido pela população, visto que Lula tem popularidade e não tem feito “um governo ruim”.
A proposta entretanto, tem preocupado alguns governistas. Eles alegam que a insistência na ideia e a colocação do nome de Lula como possível candidato pode enfraquecer o nome da ministra Dilma Rousseff. “O próprio presidente mandou a gente desistir disso para não dificultar o nome do PT. Por isso nem assinei o apoio ao projeto do Jackson Barreto”, disse Devanir Ribeiro (PT-SP), que por dois anos foi um defensor declarado da tese do terceiro mandato.
De acordo com a proposta do deputado Barreto, presidente da República, governadores e prefeitos poderão ser eleitos para até dois períodos imediatamente subsequentes. A emenda, entretanto, só passa a vigorar se for aprovada em um referendo popular, que deve ser realizado no segundo domingo de setembro deste ano.
Memória
Ideia surgiu em 2007
As discussões em torno da possibilidade de permitir um terceiro mandato para o presidente Lula começaram em outubro de 2007, depois que o Correio divulgou a intenção dos deputados Devanir Ribeiro (PT-SP) e Carlos William (PTC-MG) de apresentarem projetos que possibilitassem a permanência de Lula no poder mais quatro anos. Diante da polêmica em torno da ideia, William resolveu engavetar a proposta de sua autoria. Ribeiro, por sua vez, insistiu na tese. Tinha muito a ganhar. Além de aparecer como um fiel defensor do compadre Lula, o deputado saiu do grupo dos parlamentares desconhecidos.
No PT, o deputado chegou a tornar-se tema de discussão e chegou a ser chamado no Palácio do Planalto pelo próprio presidente da República. Na ocasião, Lula exigiu explicações sobre a proposta de Devanir e lhe disse que não tinha interesse em um terceiro mandato. O presidente reclamou da repercussão da ideia e pediu ao deputado para desistir do projeto. Insistente, Devanir Ribeiro reformulou o texto duas vezes e somente no fim do ano passado anunciou a desistência, depois de o PT fechar questão sobre o assunto. Na semana passada, depois de uma reunião de peemedebistas, o deputado Jackson Barreto (SE) anunciou a ideia de apresentar uma proposta semelhante a de Devanir.