Em represália à decisão do governo de ficar com os dois postos de comando da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostas irregularidades na Petrobras e na Agência Nacional de Petróleo (ANP), o DEM e o PSDB resolveram ontem entrar em obstrução para tentar impedir a votação de propostas de interesse do Palácio do Planalto. A ideia dos oposicionistas é não deixar que sejam votadas medidas provisórias como a que cria o Fundo Soberano e a que autoriza a União a emprestar R$ 100 bilhões ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ambas as MPs perdem validade já na segunda-feira.
"Se eles (governistas) têm número para eleger o presidente e designar o relator da CPI da Petrobras, nós vamos fazer valer nosso ponto de vista e entrar em obstrução", afirmou ontem o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN).
"O entendimento era para que ficássemos com a presidência. Suspenderam o entendimento que estava viabilizado", disse Agripino, momentos após ser informado pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), de que a oposição não ficaria com o cargo. Mais tarde, depois de desistir de fazer um discurso no plenário do Senado, Renan confirmou que a oposição não ficaria com nenhum dos postos de comando. "Criar uma CPI é direito constitucional da minoria, mas quem vai ser o presidente é um processo da maioria", argumentou.
Depois de atropelar a oposição, o governo estava disposto ontem à noite a indicar pesos pesados para os dois cargos de comando da comissão: a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que deve ser a presidente, e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), provável relator. Ideli é líder do governo no Congresso e Jucá líder do governo no Senado. Além de dois líderes governistas, a CPI vai contar ainda com um ex-presidente da República: o senador Fernando Collor (AL).
A provável indicação de dois líderes para comandar a CPI é uma demonstração clara de que o clima será de enfrentamento com a oposição. Era quase meia-noite quando o PMDB divulgou a relação de seus indicados para integrar a comissão, que terá 11 titulares e 7 suplentes. Além de Jucá, foram escolhidos por Renan os senadores Leomar Quintanilha (TO) e Paulo Duque (RJ) como titulares. Almeida Lima (RJ) e Valdir Raupp (RO) vão ficar na suplência.
Pelo bloco governista (PT/PR/PRB/PSB/PC do B), os titulares escolhidos foram João Pedro (PT-AM) e Inácio Arruda (PC do B-CE). Na suplência ficam Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Delcídio Amaral (PT-MS).
A oposição também escolheu pesos pesados para a CPI. Os nomes dos oposicionistas devem ser protocolados hoje pela manhã. O DEM pretendia pôr na CPI Antonio Carlos Magalhães Júnior (BA), como titular, e dar a Heráclito Fortes (PI) a suplência. Já pelo PSDB deveriam ser indicados Sérgio Guerra (PE) e Álvaro Dias (PR), como titulares, e Tasso Jereissati (CE) para suplente. O PDT indicou Jefferson Praia (AM) e o PTB Collor e Gim Argello (DF), este como suplente.
Agência Estado